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Publicado: Sábado, 8 de setembro de 2018

Rato (In Memoriam)

Crédito: Arquivo Pessoal / Facebook Rato (In Memoriam)
Rato permanecerá entocado bem lá no fundo do nosso coração.

Em nossa classe do Regente Feijó algum desavisado sempre ficava confuso quando a professora, ao fazer a chamada, dizia o nome: “Edilson Ferreira Mendes Júnior”. Quem seria? Depois que respondia “Presente!”, alguém sempre exclamava: “Ah! É o Rato!”. Tal era o apelido roedor desse amigo que partiu antes do tempo, fora do combinado, em trágico acidente automobilístico.

Estudamos juntos no Regentão, naquilo que na época chamávamos de “ginásio”. Éramos adolescentes e o Rato um pouco mais velho. Muito festeiro e sarrista, causava suspiros nas meninas da classe. Dava-se bem nos esportes, principalmente no futebol. Andava sempre na estica, gostava de festas e frequentava os clubes da moçada: Comerciários, Ituano, World, etc.

Nossa geração pegou a última fase do chamado ironicamente “bobódromo”, aquele quarteirão central da cidade formado pelas ruas Barão de Itaim, Sete de Setembro, Floriano Peixoto e Praça do Carmo. Nos embalos de sábado à noite era comum encontrar o Rato e muitos outros amigos e amigas no Tonilu da esquina ou no Chocolito, que era o ponto final da galera.

Rato e eu não éramos amigos de muita convivência, até porque a vida nos colocou cada qual no próprio caminho. O poeta inglês George Herbert (1593-1633) dizia: “O rato que tem uma só toca não tarda a ser apanhado”. Pois o nosso Rato nunca se deixou apanhar. Fez de tudo na vida, muita coisa mesmo. Do que me recordo, assim por cima, é que foi guarda rodoviário, vendedor de automóveis e comerciante. Também foi candidato a vereador na eleição passada.

Ultimamente trabalhava como vendedor de produtos cosméticos, atendendo salões de beleza. Perguntei-lhe se estava feliz, se o trabalho ia bem, essas coisas. Disse-me estar bem contente. O Rato era assim: para ele estava tudo jóia, sempre, mesmo que não fosse tanto assim. Jamais ouvi dele um lamento. Nunca o vi pra baixo, desanimado.

Nossa amizade era um tanto fortuita, ou seja, a gente nunca combinava mas sempre acabava se encontrando. Depois de um reencontro de alunos do Regentão, em 2014, nos vimos algumas vezes. A última foi há menos de um mês. Estava passando pela Praça Padre Miguel e o encontrei papeando com um amigo. Parei, nos cumprimentamos e perguntamos da vida um do outro. Tudo muito breve, como a própria vida. Então nos despedimos e dissemos “Até a próxima!”.

Poisé, Rato... A “próxima” terá que ser na eternidade. Sua missão terrestre acabou e o importante é que você deixou a sua marca no mundo. O Rato mudou de toca, mas permanecerá entocado bem lá no fundo do coração da gente.

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