Redenção
Com uma pasta de cola branca diluída em água, saíram pregando cartazes em tudo quanto é poste. Procurado, seu rosto estava em cada mural de igreja, de norte a sul. Os amigos diziam que ele voara com o vento. Os inimigos riam como se já esperassem tal comportamento; como se previssem a fuga. Mas, no fundo, todos sabiam que estava perdido. Fizeram campanha, acampamento, vigília, juramento, sacrifício e sacramento. Certo dia, enquanto o fujão aguardava um ônibus para o Corcovado, acabou fotografado sem querer, ao fundo, por um casal de austríacos que se exibiam para uma selfie. O retrato viajou o mundo tão rápido que, minutos mais tarde, não havia como se esconder; terminou encontrado aos pés do Cristo Redentor. Primeiro chegou a mãe, depois o irmão, e atrás todas a câmeras e microfones dos canais abertos na televisão. Fingiu esquizofrenia, sorriu amarelo e voltou para casa parecendo querer. Hoje pela manhã, enquanto a faxineira arrumava sua cama, encontrou um mapa embaixo do travesseiro.