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Publicado: Sábado, 11 de dezembro de 2010

Respirar história

 

                

Num périplo ligeiro, estive em Minas e concentrei essa passagem por duas das suas cidades históricas. Tiradente e São João Del Rei, vizinhas por sinal.

Fico por enquanto apenas com a pequenina e graciosa Tiradentes que proporciona aquele clima saboroso da volta ao passado.

Doze e trinta, almoço. Os dois primeiros restaurantes – indicação do Guia 4 Rodas, curiosamente estavam fechados. Aí então se soube que não existiam mais. Compreensível, o Guia é do ano 2007. Na mesma rua, denominada Direita e onde se concentra um comércio mais ativo, embora por toda Tiradentes haja sempre algo para se ver e comprar, entre outros optei então pelo Sabor de Minas, com que a gente se entrega ao clássico tutu. Boa parte do rascunho desta crônica nasceu durante a espera do preparo do prato saboroso.

É a terra das mil pousadas. De cada três endereços nas ruas, um será casa de pouso. Prédios na maioria ao estilo do casario que consagra essas cidades mineiras, mas retocado por dentro e razoavelmente confortáveis. Hotéis propriamente ditos, um ou outro.

Agradevelmente  acomodado na Pousada Tiradentes, um sobrado de esquina, que me fez lembrar do inesquecível sobradão da rua Barão do Itaim, hoje Casa do Barão, regiao em que vivi uma infância se pobre de um lado, imensamente feliz no entanto. Que saudade!

No trecho final da BR e desvio que com cerca de quatro quilometros dá acesso a Tiradentes, apesar de um breve percurso, demorei mais de uma hora. Quis ver, um a um, os antiquários logo na chegada, embora haja outros na zona urbana. Foram paradas obrigatórias! Uma quantidade enorme de peças que, realmente, não são vistas em antiquários fora de Minas. Artesãos finíssimos a compor autênticas obras de arte. E tudo a preço aceitável. Mas se compreende, porque os antiquários distantes adquirem aqui muitas dessas peças.

Na saída do restaurante, reparo num senhor, amparado em bengala e de passos lentos, daquelas pessoas que exprimem simpatia desde o seu semblante. Chamou-me a atenção, um grande crucifixo que ele trazia no peito. Olhei, olhei e não resisti. Fui até ele: o senhor é padre, tenho certeza. O crucifixo era do tamanho daqueles com que no geral os senhores Bispos se apresentam. Não meu filho, não sou padre, mas quase, diz ele. E prossegue, explicando que trabalhava muito na Igreja e era Ministro da Eucaristia. Observei o espírito conservador dos mineiros até nisso, dizer-se Ministro da Eucaristia, como aliás eram conhecidos os primeiros a receberem essa honraria em Itu, 1971, tempos do Frei Constâncio, que ensinava à época, que se deveria trazer os sapatos bem engraxados e de cor preta.

Perguntei-lhe o nome e me informou: Antonio Faustino, 91 anos. Complementou: moro aqui, na rua Direita, nº 111. Uma simpatia de cidadão. Autorizou-me inclusive a fotografá-lo. Atento e vendo emanar dele tanta espiritualidade, me recomendei às suas orações. Ele então pediu para deixar meu nome, escrito num pedaço de papel e que iria sim rezar por mim. Olhe só a bondade dele, na despedida: - Você vai ver quantas coisas boas vão lhe acontecer.

Numa outra oportunidade – agora estou premido pelo tempo – pretendo comentar mais sobre a cidade acolhedora de Tiradentes.

Aliás, há matéria colhida também para outra crônica, a focalizar São João Del Rei.

Até lá.

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