Publicado: Quarta-feira, 29 de abril de 2009
Revolução dos cravos
Resolvi dedicar esse artigo para fazer uma pequena explanação sobre uma data muito evidenciada em Portugal: 25 de abril de 1974. Nesse dia histórico vivenciou-se o golpe de estado militar que derrubou um regime que vigorava desde 1926, o Estado Novo (regime autoritário de inspiração fascista), comandado por Oliveira Salazar. Na generalidade, considera-se que essa revolução trouxe liberdade ao povo português, e explica o atraso do país comparado com o restante da Europa.
Sob esse anterior governo, Portugal foi sempre tido como uma ditadura, tanto pela oposição, pelos observadores estrangeiros e pelos próprios dirigentes do regime.
No âmbito desse regime, todas as eleições eram consideradas fraudulentas pela oposição, que acusava o governo de “desrespeito pelo dever de imparcialidade”.
O Estado Novo possuía uma polícia política, a PIDE (Policia Internacional de Defesa do Estado), que perseguia os opositores do regime. Conforme a visão histórica, o país mantinha ainda suas colônias, numa época em que todos os países europeus iniciavam o processo de emancipação das suas.
Mesmo havendo manifestações nos fóruns mundiais, como na ONU, Portugal mantinha essa política de força, tendo que defender militarmente, nos anos 60, suas colônias contra grupos independentistas em Angola, Guiné e Moçambique.
No início dos anos 70, o regime autoritário continuava a pesar sobre Portugal. Seu fundador, António Oliveira Salazar, foi destituído em 1968, por motivos de saúde, tendo sido seu sucessor Marcelo Caetano.
A inércia do próprio regime, juntamente com o poder da PIDE, impedia a tentativa de reforma política.
Em plena efervescência social e intelectual dos anos 60 e 70, Portugal mantinha-se exilado, defendendo, pela força das armas, o Império Português, existente no imaginário dos ideólogos do regime. Para tal, o país viu-se obrigado a investir grandes esforços numa guerra colonial de pacificação, atitude que contrastava com o resto das potências coloniais que tratavam de assegurar-se da saída do continente africano da forma mais conveniente.
No auge da Guerra Fria, os blocos capitalista e comunista, apoiaram e financiaram as guerrilhas das colônias portuguesas, tentando atraí-las para a influência americana ou soviética. Os movimentos independentistas surgiram em Moçambique, Angola, Guiné, São Tomé e Príncipe e Cabo Verde. Esses inúmeros conflitos forçaram Salazar e Caetano a gastar grande parte do orçamento de Estado em despesas militares, mantendo Portugal um pouco isolado do resto do Mundo, gerando uma forte emigração.
Já em fevereiro de 1974, Marcelo Caetano é forçado pela velha guarda do regime a destituir o general António Spínola e seus apoiantes, quando tentava modificar o rumo da política colonial portuguesa. Então, tendo sido reveladas as divisões dentro da elite do regime, o MFA (Movimento das Forças Armadas) decide levar adiante um golpe de estado.
No dia 5 de março de 1974, aprova-se o primeiro documento do movimento, sido posto a circular clandestinamente. Em 24 de abril de 1974, um grupo militar instalou secretamente o posto de comando golpista em um quartel de Lisboa. Ás 22h55 transmite-se pelas estações de rádios a canção “E depois do Adeus” de Paulo de Carvalho, um sinal previamente combinado pelos golpistas e que desencadeou a primeira fase do golpe. Às 00h20m, a canção Grândola Vila Morena, de José Afonso, confirmava o golpe e marcava o início das operações.
À Escola Pratica de Cavalaria, comandada pelo capitação Salgueiro Maia coube o parte mais importante, a ocupação do Terreiro do Paço, se deslocando mais tarde ao Quartel do Carmo, onde se encontrava o chefe do governo, Marcelo Caetano que se rendeu e partiu rumo ao exílio no Brasil.
O cravo vermelho tornou-se o símbolo da revolução, sendo umas das versões o fato de uma florista ter colocado um cravo na espingarda de um soldado e em seguida começou a distribuir para os restantes soldados que rapidamente o colocaram nos canos das espingardas.
Uma das medidas imediatas da revolução foi o fim da PIDE e da censura. O 1 de Maio foi celebrado legalmente nas ruas pela primeira vez em muitos anos, onde se reuniram, em Lisboa, um milhão de pessoa.
Evidentemente houve um período de grande conturbação política no país até haver estabilidade após a transição de todo um período ditatorial para o democrático.
Hoje, como não podia deixar de ser, no meio de comemorações, grandes protestos por toda a cidade, descontentamento com a crise e desemprego, e descrença política, que se resume nessa frase:
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