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Publicado: Quinta-feira, 5 de maio de 2005

Salve as diferenças!

Quando eu era pequena gostava muito de uma história do Ziraldo chamada Flicts. O livro contava a trajetória de uma cor diferente, que não se encontrava em lugar nenhum do planeta e que era motivo de zombaria das outras cores. Depois de muito tempo e sofrimento, a cor flicts descobre o seu lugar no universo e passa a ser respeitado por todos.Acho que todos nós temos um pouco de flicts. Esse sentimento de se sentir diferente do grupo misturado ao desejo de pertencer é parte integrante da vida humana. Queremos ser aceitos e reconhecidos do jeito que somos, sem precisar fazer manobras e malabarismos para agradar. Queremos simplesmente viver a nossa vida ancorada em nossos sonhos, sem precisar se preocupar tanto com as expectativas alheias. Mas isso é difícil. O que raramente percebemos é que, se por um lado queremos ser aceitos como somos, temos a maior dificuldade em aceitar os outros como eles são. Queremos moldar tudo a nossa volta de acordo com o nosso jeito de ver o mundo. E isso aparece nas nossas pequenas atitudes com filhos, amigos, chefes, pais, companheiro, vizinhos. Sem querer, entramos em um campo de batalha permanente que nos impede de aceitar e reverenciar a verdade de cada um como sendo única e especial. É difícil aceitar que nossa verdade é apenas uma pequeníssima parte do todo e que a beleza está justamente na mistura de todas essas cores, preservando o brilho de cada uma delas.
Lidar com as diferenças não é fácil. E crescer com as diferenças é mais difícil ainda.
Mas esse é um dos grandes segredos do viver. Quando abrimos mão de “estar sempre certo”, quando conseguimos nos relacionar com as pessoas que nos cercam de um jeito mais livre, desimpedido de obrigações, ideais e idéias, nosso dia fica mais feliz. Comecei a aprender sobre isso desde pequenininha, quando li Flicts. E aos poucos fui percebendo que na escola da vida não há férias.
O diferente é sempre relativo. É só lembrar da fábula do patinho feio, que não se encaixava em sua família até se descobrir cisne. Os livros de crianças estão sempre nos mostrando histórias assim, com o objetivo de ajudar as crianças a encontrar o seu lugar no mundo. Penso que nós, adultos, também precisamos ler esses livros. Precisamos aprender a ver o mundo com mais liberdade, aceitar as infinitas formas de expressão de cada pessoa e acolher seus diferentes significados. Afinal, estamos caminhando para um tempo onde as associações e a união entre os povos se faz cada vez mais urgente. E tudo isso começa dentro de cada um de nós, na nossa própria casa.

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