Saudosismo
Toma feição de pieguice discorrer a respeito do que seja o saudosismo, mas, a despeito dessa concepção precipitada e até por isso, o assunto vai à baila.
Leitura deste teor, dela certa e sabidamente os das gerações mais recentes, diga-se dos trinta a trinta e cinco anos de idade hoje, nem se ocuparão. A esses, o próprio título afugenta e não se os condena e até se compreende essa espécie de reação. Reação nenhuma, talvez. Assunto fora de seu âmbito de interesse.
Compreende-se essa evidente tendência ao imediatismo, resultado da velocidade como fatos e artigos de toda sorte surgem e se vão, cada vez mais normas, medidas, costumes e tendências, ganham a marca de algo passageiro.
Esse afã e velocidade, cria também problemas de solução só encontradiça em nações evoluídas e, para se saber de um caso apenas, o de alguns países que refletiram e começaram a agir no sentido de diminuir o trânsito de automóveis nas cidades.
Seja esse quiçá dos maiores absurdos a aturdir a gente em todas as cidades. As pequeninas também. Incluídas as do interior, Itu para exemplo bem próximo e bem à mão.
Como o produto de capital importância seja agora o carro, essa máquina prepondera sobre todos e tudo. Impera. Impõe-se.
Lembro de amigos que vieram até mim, amigos de verdade portanto, e entenderam absurdo ou até descuido precipitado meu, quando, numa crônica, uma vez que o calçadão do centro não acontece (há um projeto que não vai além de mero remendo e não solução), sugeri cobrança de pedágio mínimo e mais propriamente educativo na Floriano. Cinquenta centavos que fossem.
Seja a linha de ideias de hoje trazida de volta ao título acima, saudosismo.
A tecnologia, os produtos eletrônicos manuais ou quase, ao mesmo tempo em que colocaram todas as pessoas ao alcance mútuo geral, separou-as impiedosamente.
O quanto não ficou simplificada a comemoração do Natal em família, data em que mais propriamente se foge para recantos aprazíveis? A fórmula do amigo invisível então, um meio de economizar. Sumiu, extinguiu-se a relação para a outorga de presentes e mimos, com paciência e cuidado em acima de tudo surpreender o favorecido, de quem se procurou descobrir suas preferências e tendências. O gosto de presentear.
O ser humano está impiedosa e definitivamente informatizado.
Dia desses, por acaso, estava junto a um casal que anunciava aos filhos que em Itu, como em algumas cidades outras do Brasil, crianças iriam aflorar nas janelas do prédio do INPS, para uma comovente comemoração do Natal.
- Ah, mãe, ah pai, eu não quero ir.
- Nem eu, apressou o irmão.
Ambos na fase de pré-juventude.
Quero crer e tomara não me engane, que os leitores da minha faixa adiantada de idade, esses ao menos, entendam do que aqui foi abordado.
A geração automatizada se impõe.
Praza aos céus de que um dia olhem este artigo e possam dizer que, a despeito da boa intenção do autor, ele estava mesmo errado. Fora de seu tempo. E que, destarte, terei laborado hoje algo anacrônico.
Entretanto, talvez não saibam, que já cheguei até a conversar com algumas gramíneas brotadas a rés do chão de minha garagem. Travei longa conversa, à espera de que uma camioneta liberasse minha saída. Esse papo foi reproduzido numa crônica de uns doze anos, quinze anos.
Sonhador, eu?