Semana cheia
Os fatos – o dia a dia – concorrem para mudar panoramas quase de improviso, a ponto de que, na imprensa não diária, determinado enfoque, por mais recente que seja, possa perder influência, de uma hora para outra.
Semana cheia.
Ao vir aos leitores esta folha, algum enunciado daqui poderá nem refletir atualidade prioritária.
Um trunfo entanto seguramente se obteve.
Últimos dias de junho. 2013.
O Brasil atropela até a mídia internacional, eis que a um tempo acolhe a Copa das Confederações, enquanto o povo se divide entre lotar os estádios e ocupar as ruas das capitais na mais legítima manifestação cívica.
Noticiosos da televisão ampliam seus horários e assim reduzem ou nem expõem programas fixos semanais, deixados para trás, tamanha a proporção das passeatas a dominar as principais vias de trânsito urbanas.
O povo veio às ruas em princípio para discordar da elevação do preço das passagens de ônibus, de um modo geral fixadas no valor de R$3,20.
Em verdade, talvez surpreendida a população consigo mesma, sem saber quiçá da força que tem, como que acordada, espraiou sua indignação contra outros males antigos e novos do país. Muita queixa pelo dinheiro empregado na reforma e ampliação dos estádios frente a urgências descuradas nas áreas de saúde, educação, serviços públicos e outras igualmente essenciais. Acendeu-se também um veemente clamor de repúdio e busca de um final definitivo à notória corrupção a dominar os governos em geral, nos altos escalões.
Em resumo, a voz das ruas ganhou todos os espaços.
Sem violência.
Sem violência, como não? Tanto que agora cumpre aos órgãos de segurança, identificar quem são os componentes desordeiros, ínfima minoria infiltrada, para desmascará-los e aos seus mentores, estes logicamente sem mostrar a cara. Saber quem são, de onde vieram e quem os comanda.
A mole humana, imensa, emocionante e emocionada, era aplaudida e apoiada por outros das calçadas e das janelas dos edifícios, - este o povo brasileiro.
Que não se resuma a sonho passadiço e eventual essa coesão surgida da espontaneidade para gritar ao Planalto e ao país que corrupção e desvio de dinheiro público vai acabar. Políticos de outrora e atuais, que não mais tenham o desplante de se candidatar. Agora sim, que o povo entenda a força que o voto possui. Não seja ninguém levado outra vez às urnas só a pensar em si ou em favores conseguidos. Não se vote tampouco por votar.
Surgiria uma pergunta.
Quais e quantos são os políticos merecedores de votos porque de conceito inatacável a toda prova?
Faça-se deles uma relação. A sua própria, se conseguir, mesmo que custosa a elaboração. De qualquer modo, não haja desânimo, até porque resultará diminuta,
surpreendentemente pequena. Se algum nome dela não constar, seja-lhe negado o voto.
A dos maus, essa é imensa e notória.
Apurado pois esse resíduo confiável, - com o indispensável apuro para não confundir lobos com lebre, porque aqueles são sutis, escorregadios e sequer se lhes cora o semblante ante seus desmandos, - então um novo Brasil poderá surgir.
Para retemperar os ânimos, de permeio à repulsa, o país tingiu-se de suas cores, o hino nacional entoado nos estádios com vibração nunca vista, influenciados inclusive os próprios jogadores que, anteriormente, tudo ouviam de boca fechada e ar distante.
Até o momento desta redação, bons jogos realmente.
Se vale a empolgação, que sensação benfazeja e agradável constatar a evolução técnica dos futebolistas japoneses ao enfrentar com galhardia a poderosa Itália, quatro vezes campeã mundial. O público presente vibrou com o feito dos nipônicos, ao provarem que muitas vezes a vitória está muito mais na bravura para lutar, mesmo a peso de placar adverso.
Semana cheia.
Na noite de quinta, 19, a notícia de que praticamente em todo país o preço das passagens retornaria ao valor do antes vigente. Não haverá aumento das passagens.
O povo soube cobrar com ordem e altanaria.
Vandalismo aqui e ali, que seja bem apurado.
Está levantada a bandeira de reivindicações.
Em ordem. Sempre sem violência.