Publicado: Sexta-feira, 21 de novembro de 2008
Sentir Firmeza na Juventude
É incrível como a mente humana faz associações nem sempre condizentes com algo real, mas que nos levam a refletir sobre a realidade em que estamos. A crise financeira nos EUA transformou os pregões das bolsas de valores em montanhas-russas, deflagrou inseguranças no mercado global e causou a falência de vários bancos e outras instituições financeiras até então confiáveis.
Pensando sobre o tema falência, acabei pousando meu olhar sobre a juventude atual. Como expliquei na introdução deste artigo, uma coisa não tem nada a ver com a outra. Porém, acabei imerso em recordações e pensamentos. Os leitores e leitoras hão de perdoar o tom saudosista destas linhas, bem como o ar um tanto quanto pessimista, mas tudo deriva de uma real preocupação sobre o futuro da nossa gente.
Na minha adolescência, os encontros espirituais para jovens despertavam lideranças cristãs e jovens entusiasmados a participar da Igreja. Mesmo com o sempre presente choque entre gerações, a juventude era acolhida no seio da comunidade para fazer a sua parte de ser a "primavera" da Igreja, florindo vocações diversas na paróquia, no bairro, na cidade.
Mesmo que alguns fossem meio empurrados a participar de um retiro espiritual durante todo um final de semana, os encontristas saíam deles transformados e dispostos a seguir os ideais de Jesus. Em várias paróquias, as missas de sábado à noite eram reservadas para a participação destacada da juventude. Eram grupos de 80, 100 e até 200 jovens reunindo-se semanalmente na celebração eucarística. Em seguida, vinham as reuniões nas quais os jovens aprendiam a crescer na fé e partilhavam suas dificuldades em praticá-la.
Os grupos de jovens eram ativos. Organizavam festivais de música e de teatro. Realizavam quermesses e ações beneficentes. Uniam-se para competições esportivas e culturais entre si, além de participar efetivamente dos principais acontecimentos religiosos da cidade, durante a Semana Santa e a festa de Corpus Christi. Enfim, era uma massa numerosa e ativa que podia ser contada na casa dos milhares.
Costumo ser bom observador, faz parte da profissão. E ao olha para a juventude atual, fico desanimado. Percebo que os apelos das coisas mundanas tem influenciado demais nossos jovens, servindo para os distrair ainda mais a respeito do que mais importa na vida: a fé. A maioria dos jovens não se sente atraída pela Igreja e nem disposto a fazer parte dela. Estão impacientes e sem boa-vontade para conhecer o plano de Deus para suas vidas.
Ao menos em Itu, várias paróquias deixaram de ter grupos de jovens. As missas de sábado à noite já não contam com a grande presença da juventude. Infelizmente, presenciar a existência de um grupo de jovens numeroso, entusiasmado e ativo, passou a ser exceção. Por mais que esforços sejam feitos em termos de pastoral, parece que nada surte efeito. O que acontece?
São muitas as reflexões. Como já citei, pode ser a influência do mundo a afastar a juventude de Deus. Parte da culpa pode ser também de nós, mais experientes na caminhada. Padre Zezinho SCJ sempre dizia: "Há muitos jovens vazios, porque há poucos adultos transbordando".
Em algumas comunidades, jovens e adolescentes ainda são tratados como criancinhas da catequese, aos quais não se confia iniciativa alguma e cujo tratamento é sempre autoritário. Há também os que se apressam em apresentar a Igreja de forma adulta demais, deixando-a pouco atraente para os que estão na faixa etária dos 14 aos 20 anos.
O tom pessimista acaba por aqui, pois em minhas observações também enxergo um foco de resistência. Como bravos soldados de Cristo, um grupo eficaz de jovens evangelizados e conscientes se esforça para permanecer na ativa e evangelizando. Os recursos são poucos, a desconfiança quanto à sua experiência e capacidades sempre são um obstáculo a ser superado, mas a vontade de seguir Jesus é mais forte. Não se calam, não se omitem, dão a cara à tapa. Renunciam aos apelos mundanos para pregar a simplicidade, a humildade, a amizade, a união, a fé, a esperança e a caridade.
A maior virtude do bom cristão é rezar, pois a oração é sinal de que praticamos a fé e acreditamos que Deus as escuta. Para os que já não são mais adolescentes, basta rezar para que a juventude de hoje não desanime. É essencial rezar pelas futuras gerações de cristãos, para que saibam resolver os desafios desta geração cada vez mais maluca e por vezes surreal, na qual atentados contra a dignidade humana são cometidos incessantemente e à luz do dia, sem provocar reação nos corações endurecidos.
Nos últimos momentos da vida de Cristo, após a debandada geral dos Apóstolos que fugiram com medo, o único a permanecer aos pés da cruz no Calvário foi o apóstolo João. Era o mais jovem dos doze, "aquele a quem o Senhor amava". Foi a João que Jesus confiou a guarda de sua querida Mãe, antes de entregar o espírito ao Pai. E foi à Nossa Senhora que o Filho de Deus confiou toda a humanidade, toda a juventude.
Com sua experiência milenar e sempre iluminada pelo Espírito Santo, a Igreja deve aprender a confiar mais na juventude, para caminhar "com" ela e não "acima" dela. Talvez os jovens estejam esperando ouvir um "Senti firmeza, confio em vocês!", mais efetivo, sincero e comprovado na prática. Assim, poderão sentir-se mais acolhidos, mais animados, mais ativos e mais inseridos em seu papel de protagonistas na formação da futura geração de seguidores de Cristo.
Amém.
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