Ser pediatra
Pediatria, o amor da minha vida.
36 anos como pediatra, fiquei estarrecida saber que está faltando pediatras nos plantões, nas emergências.
Fontes oficiais (SPSP e SBP: Sociedade de Pediatria de São Paulo e Sociedade Brasileira de Pediatria) informam que no período de 1999 a 2010 ocorreu a redução de 55,5% dos candidatos aprovados nas provas para obtenção do Título de Especialista em Pediatria (TEP) pela SBP, apesar do exagerado aumento dos formandos, devido a “desenfreada criação de escolas de medicina no país, como uma epidemia devastadora e sem controle”.
Como a prática que faço no consultório com a Homeopatia, alopatia, utilizando os conceitos de outras medicinas milenares, eu as dedico com tanto amor de forma tão prazerosa que não me dei conta da situação real que ocorria. Mas, há algum tempo já vinha me preocupando com o rendimento mensal que minguava a cada ano que passava.
Segundo inquéritos recentes feitos pela SPSP os “pediatras estão descontentes, estressados, desestimulados e mal remunerados, sem qualidade de vida. E os pediatras estão deixando de atender os convênios. E, aqueles que ainda optam pela Pediatria, não pretendem laborar em consultório, “o relicário do ato médico”.
Percebi que eu sou uma “raça em extinção”, pois, devo ser uma das raras médicas que sobrevive somente com o consultório, sem empregos fora dessa atividade
Atualmente os colegas pediatras necessitam de pelo menos 2 a 3 empregos além do consultório para a própria sobrevivência e de seus familiares.
Para conseguir manter-me somente com o consultório desde 1982 quando tomei essa decisão, fui credenciando-me com alguns convênios médicos, pois naquela época já não se sobrevivia somente com pacientes particulares devido o crescente aumento de medicinas de grupo. Atualmente possuo 25 credenciamentos.
Há 3 anos, após o falecimento do meu marido, tornei-me a única fonte de rendas e percebi mais objetivamente como os honorários estavam defasados.
A SBP foi fundada em 1910 e no livro da história da SBP, há a citação do “primeiro cuidado a criança de que se tem notícia do Brasil: Hans Staden testemunhou em 1557 o mesmo hábito das mulheres tupinambás: carregam os seus filhos envolvidos em panos de algodão, e assim como eles trabalham. As crianças aí dormem e andam contentes, por mais que elas se abaixem ou se movam...”; portanto a criança brasileira entrou para a História há precisamente 500 anos.
O pai da Pediatria no Brasil é o Dr. Carlos Arthur Moncorvo de Figueiredo, que instalou a primeira clínica infantil brasileira e o curso pioneiro de Pediatria, em 1881/1882. A seu filho Dr. Carlos Arthur Moncorvo Filho, conheceu a glória de ter levantado em caráter pioneiro a bandeira da assistência médico-social da criança brasileira, em 1899/1900.
Como não preocupar-nos com o futuro dessa especialidade secular no nosso país?
Em julho/2011 tive a oportunidade de ir ao casamento de um paciente, atualmente com 28 anos de idade e que foi um dos primeiros pacientes do consultório. A satisfação como pediatra é incalculável, a emoção foi muito grande e como homeopata cuidei de muitas pessoas da família e havia 12 dessa família que foram meus pacientes. Foi feita uma foto que considero histórica e com muita satisfação!.
Ser pediatra é muito gratificante.
A classe médica está unida em participar dos movimentos em prol da melhoria do atendimento aos pacientes, assim como dos honorários médicos.
Foi estabelecido oficialmente um calendário de paralisação, do qual participarei nos dias 14, 15 e 16 de setembro de 2011, será o da Pediatria, e deixarei de atender os convênios nesses dias.
Convido todos os colegas pediatras a participarem desse movimento que será um marco fundamental na dignificação da nossa profissão e da nossa especialidade tão singela e não deixar que extingue essa especialidade.
Peço aos queridos pais e mães de meus pacientes, a compreensão e apoio nesse movimento tão importante.
Deixo um abraço com muito amor e carinho aos meus leitores.
Fontes de informações:
• Boletim da Sociedade de Pediatria de São Paulo (março/abril/2011)
•Boletim da Sociedade de Pediatria de São Paulo (julho/agosto/2011)
• História da Sociedade Brasileira de Pediatria 1910-2000. Glauco Carneiro: “Um compromisso com a Esperança”.
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