Seres pensantes, gente afinal
Ouviu-se de alguém, dia destes, uma afirmação de si conhecida, mas que pouco ocorre, uma daquelas coisas sabidas de todos, não comentadas porém em conversas apressadas, nos encontros fortuitos de todos os dias.
Em resumo, embora todos saibam, poucos refletem e comentam.
O desditoso esquecimento do quanto vale a permuta de atenção maior ao semelhante.
Mencionava o ínclito cidadão que nos tempos de agora as pessoas quase que nem se cumprimentam e, darem-se as mãos, muito menos ainda. Abraço? Para isso se perde ainda mais tempo.
Quando alguém se sai com observações dessa natureza, corre risco desde logo de ser olhado com desdém pelos circunstantes, por considerá-lo careta e atrasado ou, quiçá, presunçoso.
Existe socialmente hoje, como numa espécie de conluio inconsciente, a inclinação generalizada de incensar a banalidade, mostrar-se como gente bem e além de tudo pactuar com aquilo que era absurdo inconcebível há dez, quinze anos.
Pode tudo, - o lema assumido e, por vezes, até consagrado em leis facilitadoras ou de proveito a núcleos mínimos de pessoas. O particular a se sobrepor ao geral.
Esta coluna já se ocupou de práticas simples preconizadas habilmente nos papelotes de açúcar União, um como que lembrete oportuno do quanto se deve o homem a retomar costumes simples de amizade, carinho e mútuo respeito.
Pequenos cuidados, muito à mão, como fazer as crianças rirem, colhe-las por um instante e respeitosamente do colo dos pais mesmo que se não os conheça, abraçarem-se as pessoas, cultivar amizades, fazer-se útil, participar de ações comunitárias voltadas ao bem geral, ter tempo para conversar, reter a mão de outrem nas suas ao contrário de só se tocar na ponta dos dedos.
Tem-se esquecido do simples, do elementar, do corriqueiro, do fácil, do natural, do espontâneo, do verdadeiramente necessário, da descontração da alma. Mesmo sob preocupação, o semblante não necessitaria de ficar tenso, se soubesse o homem que em torno de si vigeria a solidariedade.
Deu para notar – outro louvável exemplo – de que ainda existem alguns cidadãos especialmente gentis, apenas porque – motorista ou não do veículo – apressam-se em abrir as portas a senhoras e mesmo senhores, principalmente se estes sejam de idade avançada.
Com toda franqueza, assim não procedia de modo habitual este que lhes escreve, - cuidar para que primeiro se acomodem as damas. Vai se esforçar, contudo e a tempo, por adotar tal norma de comezinha educação.
Naturalidade, espontaneidade, civilidade e – por que não – civismo.
Uma dose mínima desses conteúdos cai bem a qualquer um.
Não se pense tampouco que o cronista deita normas porque as pratica, todas. Muito do que aqui se propala advém do reconhecimento de que nunca se aprende demais e que, igualmente, não se há de olvidar a necessidade do exercício daquilo que já se sabe.
O homem – a criatura humana - seres pensantes, privilegiados merecedores da condição de filhos de Deus.
Ah, em tempo - sintam-se leitores, devidamente abraçados.