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Publicado: Quarta-feira, 24 de outubro de 2018

Sérgio

Crédito: Internet Sérgio
Sempre que lembro da Totus, lembro do Sérgio. Que interceda por nós, amém!

Na Livraria Maranatha, tradicional ponto comercial conhecido dos católicos ituanos, não entravam apenas clientes e entregadores. Localizada na Rua Santa Rita, em plena região central, os que ali trabalhávamos muitas vezes tínhamos que atender pedintes e moradores de rua. No melhor espírito da caridade, jamais maltratamos um necessitado que nos procurava querendo uma ajuda para comer ou comprar um remédio.

Entre esses nossos “fregueses” não havia apenas maltrapilhos. Apareciam também idosos sem família e sem dinheiro para a medicação, desempregados em busca de uma passagem de ônibus, mães empobrecidas com crianças desnutridas, etc. Procurávamos não julgar, só ajudar. E ajudávamos como podíamos, na medida da nossa capacidade.

Já se passaram vinte anos do início das atividades da Comunidade Totus Tuus e algumas lembranças começam a se perder na bruma dos tempos idos. Outras recordações permanecem fortes, embora não me recorde os detalhes. Acontecimentos, datas, pessoas e situações: tudo vai se perdendo na massa da memória, embora muitas coisas fiquem bem gravadas no coração.

Antes mesmo de surgir a Totus Tuus, o Sérgio já era nosso “cliente” na Maranatha. Dia sim, dia não, literalmente, ele entrava na livraria buscando alguma moedinha. Geralmente estava “alegre” por causa da bebida. Muitos moradores de rua suportam a fome e o frio com a cachaça. Nesta terra do Carnaval e da corrupção a pinga é mais barata do que roupa ou comida.

Depois de pegar sua moedinha Sérgio agradecia. Olhava para nós sorrindo e falava: “Parece que bebe!”. A gente ria, claro. Não entendia muito bem o que desejava dizer com aquela brincadeira, mas a gente ria. E estranhava quando o Sérgio sumia por alguns dias. Ficávamos preocupados, essas coisas, até que ele aparecia de novo.

Logo no começo do Sopão da Totus, o Sérgio foi dos primeiros moradores de rua do qual pudemos nos aproximar mais. Toda a molecada o conhecia. Quando depois surgiu a Chácara da Totus, na Vila Cleto, foi um dos primeiros irmãos a deixar a rua para viver na comunidade. Não era fácil, claro. A vida comunitária tem seus altos e baixos. Mas Sergio permaneceu ali, mais sossegado, até falecer em 2014.

Nessas duas décadas de atividade da Comunidade Totus Tuus, a gente se recorda de um montão de pessoas. Porém, nas minhas lembranças, quando penso em tudo o que Deus permitiu ser realizado através dessa obra, o rosto que me vem à memória é o do Sérgio. Que ele possa interceder por nós que aqui continuamos na Missão de atuar em favor dos necessitados.

Amém!

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