Publicado: Sábado, 21 de julho de 2007
Simplesmente Viver
Diariamente retomamos a vida, adormecida pelo repouso noturno. Tudo é tão simples. Enquanto flui a radiosa manhã – pode também ser uma manhã de chuva- e pela tarde, quando nos dedicamos a afazeres diversos, inclusive nos locomovendo para cumprir as obrigações impostas pela própria vida, vamos ao final, nos deparar com a chegada da noite.
E com o passar das horas, mesmo desejando continuar despertos (salvo quando o cansaço nos aflige e consome), somos obrigados a mergulhar nas profundezas do misterioso sono. Diariamente, em geral nas mesmas horas, retorna essa compulsão para fugir da vida, porque é imperioso que as trevas noturnas nos anestesiem e recomponham o organismo para a labuta do dia seguinte.
No novo amanhecer, principalmente se os dias são ensolarados e nada de desagradável tenhamos pela frente, sentimo-nos plenamente felizes. Olhamos tudo com bons olhos e mesmo a miséria alheia parece-nos ter solução. Ponderamos que é questão de tempo e com a rotatividade diária da terra em torno do sol tudo transcorrerá assim, de forma agradável e suave.
De leve, surgem pensamentos de compromissos e atividades, mas com a euforia instalada no próprio ser, tais preocupações são aniquiladas com “modus vivendi” disciplinado e controlado. Tememos apenas sair deste recanto e nos deparar com a intrusa mídia que enganosamente penetra em nossas vidas. Essa suavidade e euforia forçosamente terão de desaparecer com a enxurrada de notícias más, perversas ou entristecedoras que iremos enfrentar.
Mas, neste dia tão lindamente adornado pela claridade e pelo azul, em amena temperatura outonal, não permitiremos que ciclones midiáticos invadam o nosso interior, ensimesmado senão pelo gozo da felicidade – que parece não se exteriorizar -, ao menos pelo prazer de achar tudo maravilhoso. E assim, ao cair da tarde, nos defrontaremos novamente com a suavidade da noite.
Então, ao abrir janelas para ver as estrelas e a lua, possivelmente as enxergaremos em posições diferentes. Lastimaremos não nos encontrar em céu aberto, admirando as maravilhas do mundo sideral em todo seu esplendor. Pensamos, então, em concluir as atividades do dia. Depois, nos prepararemos para as atividades do amanhã e perceberemos que há multidão de pequenas coisas a serem feitas ou desenvolvidas na seqüência dos trabalhos.
Penetraremos nas sombrias dormências do sono e subsumidos em seus fluidos reparadores, esperaremos despertar com mais entusiasmo, coragem, prontos para um novo dia, em que realizações concretas nos façam com que nos consideremos uma criatura feliz. Perceberemos, mais uma vez, a inutilidade das preocupações. Finalmente, não permitiremos que boas lembranças do passado, próximo ou distante, se consolidem em saudades, em eventual geração de tristeza ou melancolia. Notamos, de resto, que o importante, na continuidade cada vez mais rápida dos dias e das noites, é simplesmente viver.
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