Simplício: Um Quase Esquecido
Este ano marca o centenário de Francisco Flaviano de Almeida, o Simplício. Nascido em 5 de outubro de 1916, não é lembrado pelas novas gerações. O auge de sua longa carreira deu-se na década de 1970 e teve impacto direto no destino de Itu.
Seria injusto classificá-lo como mero comediante. Muitos lembram-se dele no programa "A Praça é Nossa", nos anos 1990. Simplício foi mais que um humorista, foi um artista completo. Trabalhou no circo e no teatro, como ator e produtor de peças. Atuou e produziu muitos filmes, fez sucesso no rádio e recebeu o título de pioneiro da televisão brasileira ao participar dela desde a inauguração da TV Tupi, em 18 de setembro de 1950.
As pessoas que com ele trabalharam sempre destacaram sua simplicidade de ser, o profissionalismo como ator, o bom humor e a generosidade, além do amor pela cidade natal. No âmbito familiar, como pai e marido, revelava-se uma pessoa diferente do imaginário popular, com uma personalidade muito mais complexa, como é a de todo artista.
Durante anos entrevistei pessoas próximas a Simplício, familiares e colegas de trabalho. Li um inúmeras notícias publicadas ao longo de décadas e que formaram uma espécie de mosaico sobre sua carreira. Pesquisei em museus e bibliotecas. Concluí que, acima de tudo, Simplício foi um contador de histórias fenomenal.
Dominando essa arte Simplício deu um jeito de beneficiar nossa cidade. Graças ao seu personagem Ozório, um caipira que contava vantagem sobre o povo da capital, Itu ficou conhecida dentro e fora do Brasil como "a cidade onde tudo é grande".
A "lenda do exagero" jogou como que uma luz sobre a nossa região, atraindo empresários e industriais, comerciantes e profissionais liberais, conseguindo até mesmo a simpatia de inúmeras autoridades políticas. Os milhares de turistas que visitavam Itu anualmente fizeram que nossa cidade se tornasse uma Estância Turística, motivo pelo qual recebe verbas até hoje.
É pena que 2016 tenha começado sem iniciativa alguma da administração municipal ou de instituições privadas para a realização de um "Ano Simplício" em vista de celebrar devidamente o seu centenário de nascimento. Simplício merece mais do que um orelhão na praça ou um bonecão gigante num canto isolado da cidade. Ele merece uma estátua, um museu, um memorial, uma mostra permanente a seu respeito. Mas no Brasil é assim e em Itu nunca foi diferente: há dinheiro público para muitas coisas, menos para investimento de verdade em Cultura...
Assim, em caráter completamente particular tentarei, por mais um ano, publicar a biografia que terminei em 2003 e, portanto, está já há 13 anos na gaveta por pura falta de interesse de tanta gente em investir na sua publicação: o livro "Simplício: Um Contador de Histórias - Vida e Obra de Francisco Flaviano de Almeida".
Em Itu, tudo é grande. Inclusive a mania de esquecer seus filhos mais grandiosos.