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Publicado: Quinta-feira, 21 de junho de 2012

Sob goles e tragadas, permita-me a tristeza

Uma outra visão sobre o álcool, a descrimininalização das drogas e o vício em geral

Ah, não! Será este mais um texto com dezenas de argumentos díspares que separam os intelectualóides "pró-maconha" dos conservadores anti-legalização? Espero que não. Após acompanhar tantos textos, conferências, entrevistas, passeatas e, principalmente, a opinião popular no assunto, temo que dissertar sobre a descriminalização das drogas ou qualquer outro tema neste caminho possa cair, eventualmente, em uma mesmice pegajosa. Antes de tudo, gostaria de ressaltar que não pretendo dar suporte à nenhuma das premissas antes colocadas à tona pelos discursos já antigos, formados por um pequeno grupo de pessoas e reproduzidos à exaustão por seus pupilos nas redes sociais.

O incômodo é, talvez, muito maior que a preocupação desregrada de subir em palanques populares promovendo os velhos ditados da dicotomia enraizada no consciente geral ("eu sou a favor" ou "eu sou contra", como se não houvesse um abismo gigante entre ambos). É certo que a Marcha da Maconha, onde quer que aconteça, reúne milhares. Não obstante, o Facebook agrega centenas de compartilhamentos de frases e imagens que reforçam especialmente a ideia de que os jovens estão cada vez mais aderindo ao movimento favorável à liberação, ao menos desta substância considerada "leve".

A este texto não interessa se estar inserido neste contexto favorável à droga é positivo ou não para o país, no que concerne as possíveis melhorias no combate ao tráfico de drogas, na diminuição da violência ou qualquer outro vértice do assunto. Mas sim o momento em que nos encontramos: a dependência destes materiais químicos que alteram a nossa realidade, sob qualquer condição.

É perceptível no discurso de alguns que defendem estes movimentos, não a preocupação social, mas a vontade de facilitar o consumo próprio. E nestes casos é que a problemática se agrava: o que nos leva a brigar, ir às ruas e bradar por apenas um "barato"?

Já não trato aqui somente do ilegal, mas também do que é permitido e amplamente comercializado - o álcool. Dados da Organização Mundial da Saúde (OMS) de 2011 revelam que o Brasil está em quarto lugar nas Américas no consumo de álcool, com os assustadores 18,5 litros (puros) por ano. Ainda de acordo com a organização, 2,5 milhões de brasileiros morrem por ano por causa de doenças derivadas da bebida.

Quer mais? Um estudo do Centro Brasileiro de Informações sobre Drogas Psicotrópicas (Cebrid) e da Secretaria Nacional Antidrogas (Senad) mostra que o consumo de álcool por adolescentes de 12 a 17 anos atinge 54% dos entrevistados e desses, 7% já apresentam dependência. O estudo foi feito em 2004 e mostrou que entre jovens de 18 a 24 anos, 78% já fizeram uso da substância e 19% deles já são dependentes. E que fique bem claro que estes dados se referem apenas ao Brasil.

Ainda no estudo da Cebrid, confirma-se que a idade da "iniciação" com o álcool ocorre aos 12 anos, na maioria dos casos. E não é incomum ver pré-adolescentes, mesmo em suas páginas na internet, reclamando da vida, e até mesmo já se lamentando por "perdas amorosas". Um problema do nosso tempo, de nossa geração.

Já a maconha, considerada a droga mais usada no Brasil entre estudantes do Ensino Médio e Fundamental da rede pública (outro estudo da Cebrid), chegou a apresentar (apenas oficialmente, é claro), em um levantamento feito em 1997, as duas capitais com maior consumo do entorpecente: Curitiba, com 11,9% e Porto Alegre, com 14,4%. Além disso, ao menos 7,6% dos estudantes relataram já ter experimentado a droga em algum período da vida.

Estes dados parecem inofensivos para boa parte da população, que já acredita que a maconha é totalmente inofensiva e, baseada em pesquisas nem sempre confiáveis, defende que o uso do entorpecente deve até ser encorajado, por seus possíveis bens medicinais. Sem posicionamentos partidários ou pseudo-ideológicos, sejamos pragmáticos: talvez um baseadinho realmente não faça mal a ninguém. Mas encorajar o seu uso? Que a ciência nos ilumine:

"O uso crônico da maconha pode levar a déficits de

aprendizagem e memória, diminuição progressiva da

motivação (isto é, apatia e improdutividade, o que

caracteriza a "síndrome amotivacional"), piora de

distúrbios preexistentes, bronquites e infertilidade

(reduz a quantidade de testosterona). No caso de

adolescentes, o déficit cognitivo está relacionado a

dificuldades na aprendizagem e repetência escolar"

(extraído do livro As principais drogas: como elas agem e quais os seus efeitos - Lemos & Zaleski, 2004 - e perdoe-me, ABNT, pela referência fora das normas)

Para qualquer jovem que se questiona "por que beber?", a resposta é imediata: para socializar. "O gosto nem é tão bom assim, mas os efeitos é que deixam a bebida atraente", revela um argumento usado com frequência. O "barato" da nossa geração é ficar fora de si. Parece que a realidade já não nos é suficiente. Sem ajuda química, ela tornou-se um apêndice do ser contemporâneo. E que rasguem todos os estudos, discursos e teorias da psicologia: os jovens encontraram uma maneira melhor de fugir dos problemas. E não me tenham como antiquado: me assusta o exagero, o uso indiscriminado e sem precedentes.

Chuck Palanyuk deixou, nas palavras de Tyler Durden (Clube da Luta) a ideia de que nossa sociedade já não vive uma grande depressão como outrora, e que essa é a nossa doença. Uma guerra espiritual, ele complementa. Crise existencial, ausência de essência, chame como quiser. A questão é que estamos afundando cada vez mais em uma deturpação de valores básicos, que alguns chamam de "mundo moderno".

Não bancando o tradicional conservador, simplesmente me questiono: o que no

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