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Publicado: Domingo, 17 de outubro de 2010

Sobre consciência, atitude e esperança

Crédito: Deborah Dubner / www.itu.com.br Sobre consciência, atitude e esperança
Para mudar a vida, basta um instante.

Meu filho parou de comer carne. Antes ele comia “quando conseguia pensar que não era um animal”. Porque afinal, ele gosta do sabor. Mas um dia, visitando uma fazenda e vendo uma família de porquinhos, ele entrou em contato com o que chamamos de “vida”. A vida que mora não só dentro das pessoas, mas dentro de qualquer ser que respira e sente.

Bastou esse instante para que ele tomasse a difícil decisão. Se nós adultos, driblamos desejos e vontades misturados à consciência, imagine uma criança de 11 anos.  Mas ele não teve crise. Afinal, viveu um momento único, de expansão da consciência, na qual uma verdade se apresenta com tanta lucidez que se torna mais forte do que tudo. Para mudar a vida, basta um instante. Como mãe, fiquei com pena de ver que ele passará vontades e restrições.

Como mãe, fiquei orgulhosa de ver sua humanidade se manifestando nas pequenas (ou grandes) escolhas.

Quando meu filho me comunicou sobre sua decisão, lembrei de um ditado popular que minha amiga sempre diz: “Pé de mamão não dá abacate!” Não adianta! Os filhos aprendem o que somos e não o que falamos!

E o que sei realmente é que o caminho da consciência não é fácil. Às vezes penso que seria bem mais leve viver como a grande massa, dominada pela mídia, hipnotizada pela propaganda e anestesiada pelo dinheiro. Mas não foi isso que, “sem querer querendo”, ensinamos aos nossos filhos.

Em certos momentos dá aquela vontade de dar uma trégua aos pensamentos recorrentes relacionados a consumo consciente, aquecimento global, preservação das plantas e animais, justiça e valores universais como paz, integridade e amor. Mas não adianta! Uma vez que você pisa nessa estrada, não há mais volta.

Passeando na Bienal do Livro em SP e vendo a infinidade de apelos sustentáveis, não pude deixar de perceber a incoerência entre a visão e a ação. O que eu vi foi o enorme incentivo ao consumo, com as empresas disputando performances e atrativos para... vender! Também não pude deixar de notar o lixo da praça de alimentação sendo descartado desordenadamente, sem preocupação de reciclagem. E claro que, como eu não consigo guardar os pensamentos só pra mim, acabo compartilhando com a família.

Então, quando vejo que meu filho parou de comer carne, não me surpreendo. Vejo em seus 11 anos a semente de muitas batalhas que serão travadas, dentro e fora. Dentro, porque é onde moram nossos maiores desafios. E fora, porque a história mostra que as minorias é que transformaram o mundo.

Quando eu desanimo ao ver o tanto que falta para a humanidade atingir um grau minimamente aceitável de dignidade para viver, penso nos meus filhos e nas novas gerações. São crianças que têm vindo ao mundo com olhos curiosos, coração acordado e idéias circulares. Respiro fundo, abraço a esperança e... acredito!

Este artigo foi publicado na sessão "Lições" da Revista Regional, edição setembro/2010.

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