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Publicado: Sexta-feira, 14 de maio de 2010

Sogras e jacarés

Faz alguns anos, escrevi essa crônica elogiando não só a sogra, como as mulheres em geral. Considero-a agradável e interessante e como não foi muito divulgada, acho oportuno republicá-la, levando em conta também que faço menção aos exageros ecológicos, hoje em dia cada vez mais acentuados. Eis o texto:

 “por coincidência, quando muitos em São Paulo procuravam salvar um pobre jacaré, condenado a perecer nos fétidos e poluídos esgotos do Tietê, magistrado interiorano, prolatando infeliz decisão, reprovava o procedimento de uma sogra, justificando” a bela surra” que o genro lhe infligira.

Um bicho medonho, capaz de decepar o braço de qualquer mortal é carinhosamente considerado, mobiliza o Corpo de Bombeiros, enquanto uma sogra leva do genro “bela de uma surra” e “alguns bons pontapés” sem receber qualquer solidariedade, atenção ou gentileza sendo, pelo contrário, criticada até por autoridade que deveria agir imparcialmente.

A sogra não deixa de ser mulher. E como mulher é digna de toda consideração, respeito e deve receber delicado tratamento amoroso, na medida em que o relacionamento se torna mais próximo e compreensivo. As nossas mães, esposas, filhas e netas foram, são ou serão sogras.

Amando-as, não acreditamos que possam “vestir carapuça”, horrorosa e grosseiramente rabiscada naquela infeliz decisão. A Egrégia Instância Superior certamente a retificará: punirá o genro que chegou ao extremo de agredir a mulher - não amada e desarmada – a mãe da própria esposa.

Histórias e estórias sempre existirão de detestáveis sogras, madrastas, “ovelhas negras da família” etc., mas é induvidoso: não podemos generalizar, recriminando ou agredindo todas as sogras do mundo. Precisamos distinguir o pecado do pecador.

O pecado, o ilícito, o erro, não podem deixar de ser combatidos, mãos o pecador, o criminoso sempre tem defesa pois a natureza humana é pródiga em fraquezas, desânimos, imperfeições.

Nessa ordem de idéias, podemos revelar o genro (não “as pancadas” que desferiu na sogra), o magistrado (não as impropriedades que escreveu), sendo que a sogra, interferindo a favor da filha, agiu em legítima defesa de terceiro, merecendo portanto, aplausos pela corajosa e justificável atitude.

É o único personagem que saiu engrandecido desse episódio, inclusive ratificando o preceito evangélico de que “aqueles que se humilham serão,exaltados”.

E o jacaré como fica? Ora, bichos são bichos e por mais cuidados que tenhamos, seguem o destino deles. Será melhor morrer no leito nojento do Tietê ou varado de balas no Pantanal para seguir, após o processo de industrialização, ser transformado em sapatos, bolsas e carteiras?

Concluímos: desperdiçar tempo e dinheiro na procura do jacaré é mais uma insensatez desses dias agitados e imprevisíveis, onde sogras – alvos de inocentes brincadeiras familiares – passam a ser violentamente agredidas e espancadas.

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