SOS Vida!
Aborto, eutanásia, clonagem, reprodução artificial, manipulação genética. “Direitos” de matar, de morrer, de criar e de interferir na vida e na procriação. Até onde?
Se a ciência e a tecnologia marcam acentuadamente a sociedade, esta, igualmente, sempre foi marcada pela religiosidade. Ciência e religião não se opõem, como defendem muitos. Se a religião busca a verdade, igualmente a ciência não pode fugir dela, sob pena de se tornar um ultraje à humanidade. A racionalidade pela qual se pauta a ciência, e a espiritualidade cultivada pela religião podem e devem conviver pacificamente, e se somar, desde que haja um objetivo comum: a vida como o maior bem, a sua valorização, o respeito e o esforço para que ela exista em abundância e com qualidade.
Deus é o autor e senhor da vida; querer tratá-la sem a sua participação é correr grave risco. A religião é sempre parceira de Deus e defende a espiritualidade e a sacralização da vida; a ciência, se não cuidada, acaba com uma forte tendência à materialização.
Observações mais sérias, desprovidas de preconceitos e orgulhos, mostram que a ciência e a técnica tentam transformar a vida em algo simplesmente biológico, material, organizado em células, tecidos e órgãos, e comandado por processos químicos sofisticados. Nessa visão materialista e mutilada da vida, será sempre preciso incluir uma dimensão espiritual, sem o que jamais conseguiremos entender os organismos vivos. Por isso os céticos muitas vezes se surpreendem com algum comportamento inexplicável dessa complexa realidade.
Cresce na nossa sociedade a manipulação da vida, seja por maus costumes, falta de ética, desprezo da moral, seja por interesses claros ou escondidos. Proliferam os movimentos em defesa de leis que favorecem o aborto, a eutanásia, a manipulação genética, a reprodução humana assistida, as investigações com embriões humanos produzidos... Ao passo que os movimentos em defesa da vida se veem impotentes para combater seus inimigos.
A justificativa para o aborto, por exemplo, é sempre auxiliada pela mídia e pela própria ciência que o apresentam como uma decisão racional, madura e única em “determinadas circunstâncias”, um real “direito” (uma conquista) da mulher de se libertar da carga de uma gravidez inesperada ou indesejada. Por outro lado, escondem os problemas que podem advir dessa decisão. Em uma de suas entrevistas, Theresa Burke, fundadora de uma entidade assistencial às mulheres que passaram por aborto, questiona as condições que envolvem o assunto. Segundo ela, estudos e pesquisas revelam que a grande maioria, se tivesse apoio, não abortaria; mostram ainda que os homens têm papel significativo na decisão de abortar.
Esses e outros fatores externos apontam que, para a maioria das mulheres que abortaram, não restava outra opção. Além disso, os reais riscos e implicações do aborto provocado, na saúde física e mental da paciente nem sempre são devidamente apontados. São frequentes os distúrbios psicológicos depressivos, bem como os desvios comportamentais acompanhados de drogas, álcool e promiscuidade. Igualmente são registrados problemas ligados à futura normalidade reprodutiva dessas mulheres.
Em relação à eutanásia também se verifica manipulação da verdade; vemos muita liberalidade e muitos interesses entre legisladores; quanto aos profissionais da saúde, há os que defendem para si o “direito-dever” de decidir sobre a morte de certos doentes incuráveis, “sem qualidade de vida” ou “cansados de viver”. Crescem no mundo instituições de “auxílio” às pessoas interessadas em abreviar a vida. Os chamados suicídios assistidos, sempre justificados legal e moralmente como respeito aos “direitos” de seus assistidos em dispor de suas vidas. Certamente aqui também vamos encontrar muita falta de solidariedade e de apoio para que estas pessoas consigam, da melhor maneira possível, levar sua vida até o fim natural.
O assunto é grave e profundo; a dignidade da vida escapa de ser uma simples questão científica, médica e política; já é um problema da cultura e da civilização. O aborto, a eutanásia e a manipulação genética são apenas algumas das pedras espalhadas pelas estradas da vida e nem mesmo as maiores; tantas outras, como a exploração, injustiças, violências, fome, descuido da saúde pública, abandonos, bebidas, drogas, abusos e banalizações do corpo, ataques ao meio ambiente, formam, como lembrava João Paulo II, uma verdadeira “cultura da morte” em oposição ferrenha à “cultura da vida”, defendida por Cristo e pela sua Igreja.
Falta, pois, uma consciência sobre o valor da vida, que deve reinar acima de tudo. Seus maiores inimigos não são os fenômenos naturais, as doenças e a própria morte, mas sim nossas limitações e fraquezas, nossos interesses econômicos, financeiros, sociais e políticos; faltam ações em prol da vida. Parafraseando as palavras da Dra. Elizabeth K. Cerqueira, diríamos: Se a vida não é respeitada sempre pode não ser respeitada nunca. É preciso, portanto, acordar para o nosso compromisso e a nossa responsabilidade com esse bem maior, dom de Deus que se vê ameaçado de se tornar insustentável exatamente na terra, o Planeta da Vida.