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Publicado: Segunda-feira, 12 de julho de 2010

Sustentável desde que sustente meus mimos

É um absurdo o que está acontecendo no mar do México com o vazamento de óleo. A responsabilidade da BP é inexorável e inquestionável. Mas não consegui deixar de pensar, frente ao tamanho desta tragédia, o quanto estamos vulneráveis a desastres como este, ou até maiores. A absurda estrutura necessária para sustentar o nosso cômodo modo de viver é uma potencial bomba relógio e quase todos nós fingimos que ela não está aí. Queremos que este vazamento pare imediatamente e responsabilizados a BP por isso. Corretíssimo. Mas também queremos combustível para mover nossos carros para que possamos viajar para lugares cheios de natureza e beleza. Nós ainda não tomamos uma atitude radical frente ao modelo de civilização que criamos, e este modelo é absolutamente destrutivo. Ray Anderson, CEO da Interface, refere-se a uma imagem absolutamente brilhante. Ele compara nossa sociedade a um inventor que inventa um avião. Ele sobe até uma montanha muito alta e se joga com seu aparato. O avião não funciona e começa a cair em queda livre. Como a montanha é muito alta ele não vê o chão, e pensa que o avião está voando e ganhando velocidade. Ele está feliz e curtindo o vento enquanto o avião vai cada vez mais veloz. Sua alegria se baseia em uma ilusão, provocada pelo fato de que o chão está longe. O final da história será repentinamente trágico.

Hoje, algumas pessoas começam a ver o chão. Mas a maioria delas, e, principalmente, as empresas, estão começando a ouvir estas pessoas dizendo que o chão está se aproximando. Elas dizem: “sim, sim. Nós sabemos. Também estamos vendo.” Mas por sua atitude e pela atitude de muitos de nós – a maioria na verdade – sei que nós ainda não vimos o chão. Estamos escutando rumores sobre ele e dando algum crédito, mas muito menos do que deveríamos. Temos de reverter todo um modo de vida e um padrão de valores. Não podemos mais fazer pequenos remendos, pois quando o chão chegar, os remendos serão inúteis.

Tenho tentado viver sem carro há algum tempo. Não é uma decisão exemplar, não. É muito pouco frente ao que deveríamos fazer, mas é um experimento. Uma tentativa. A verdade é que é muito difícil, principalmente no Brasil, em São Paulo. Há um custo alto em não ter carro nesta cidade. Um custo que se sente, na pressão do dia-a-dia, da pressa, dos compromissos e do péssimo transporte público. Penso então em comprar um carro novamente, pois o custo no meu dia-a-dia será menor aparentemente. Será o custo de aumentar a velocidade de quedo do avião, mas eu poderei seguir vivendo minha ilusão de que sigo ganhando velocidade. É só não olhar para baixo. É isso que fazemos quase todo o tempo. Queremos um mundo mais sustentável, mas mantemos nossa forma de vida. Mantemos nosso consumo de produtos nocivos e assim, temos nossa parte nos derrames de óleo, nos acidentes nucleares, nos desastres ambientais. Temos nossa responsabilidade sobre isto.

Não lamente este papel. Não se esquive de sua responsabilidade, pois é somente com ela que poderemos, também, afetar de alguma forma o que está acontecendo. Mas por hora não o fizemos. E então, já encheu o tanque do seu carro nesta semana?

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