Tadinho do Dr. Roberto!
Nestes tempos em que qualquer coisa é coisa, tem voltado à baila a figura de Roberto Pisani Marinho. Trata-se de um grande ícone do jornalismo brasileiro do século passado. Antes de falecer, 15 anos atrás, aos 98 anos de idade, o Dr. Roberto, como era costumeiramente chamado, tornou-se sem dúvida um dos homens mais influentes do Brasil em diversas áreas.
Roberto Marinho não era um anjo. Também não era um demônio. Era um ser humano, mas não podemos dizer que tenha sido igual a qualquer um de nós. De fato, ele estava acima da média. Tinha inteligência, perspicácia, obstinação e carisma. Certamente teve uma penca de defeitos e limitações, como qualquer pessoa normal. A questão é que, em termos de Comunicação, talvez jamais apareça alguém com a competência e a trajetória dele.
Para os mais curiosos, sugiro a leitura de “Roberto Marinho”, escrito por Pedro Bial e publicado pela Editora Zahar. É claro que, escrita por um funcionário seu, a biografia torna-se um tanto quanto romantizada e ufanista. O leitor precisa, então, ler sem paixões ou na base da inocência, usando o devido senso crítico. A verdade é que Roberto Marinho construiu uma história de sucesso na mídia brasileira e isso fica bem apresentado nessa obra.
Dr. Roberto começou de baixo, com dificuldades. Com apenas 20 anos perdeu o pai e herdou o jornal “O Globo”. Não se sentindo ainda preparado para tal responsabilidade, deixou o comando do jornal na mão de profissionais enquanto trabalhava e conhecia por dentro cada departamento da própria empresa. Depois, quando julgou ter aprendido o suficiente, aí sim assumiu de vez o controle do negócio.
Marinho conseguiu vislumbrar e acompanhar cada salto da comunicação no Brasil. Depois de dominar a imprensa no Rio de Janeiro, estendeu sua influência a São Paulo, capitais e grandes cidades. Com a chamada “era do Rádio”, adquiriu várias transmissoras e fez o mesmo com o advento da televisão. Graças ao seu talento e muito trabalho, com ajudinhas aqui e ali, transformou um pequeno jornal impresso no conglomerado de mídia que é as Organizações Globo, uma das maiores do mundo.
Nos idos de 1964, Dr. Roberto e sua empresa apoiaram (como, aliás, a grande maioria da sociedade brasileira de então) a Revolução Militar. O editorial de “O Globo” publicado em 7 de outubro de 1984 deixa bem evidentes os seus argumentos para tal apoio. Dez anos após a morte do Dr. Roberto, “O Globo” publicou editorial (31/08/13) dizendo que a decisão do falecido proprietário foi “um erro”. A questão é que este já não estava vivo e entre nós para dizer se concordava ou não em ser desmentido nas páginas do seu próprio jornal.
Tadinho do Dr. Roberto! Do além-túmulo, deve estar muito insatisfeito. Não se desfaz a biografia e o pensamento de um homem como ele dessa forma tão leviana.