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Publicado: Quarta-feira, 1 de abril de 2015

Talvez o poeta...

Crédito: álbum de família Talvez o poeta...
"Seja fogo ardendo no peito, e calmaria à beira-mar"

Este texto é uma resposta à Rosmary Carlos, amiga de anos e anos, companheira

de realizações, hoje fonte de inspirações. Uma amizade é um tesouro indestrutível.

Ela postou este texto do F. Pessoa, e me pergunta se é verdade...

"O poeta é um fingidor, finge tão completamente, que chega a fingir que é dor, a dor que

deveras sente" . Respondo que talvez..

 

 

Ou, talvez...

O poeta, por ser poeta, seja adepto ao fingimento

Fingindo, até mesmo, ser poeta...

Fingindo a dor, fingindo a ausência, fingindo a alegria...

A alegria pela existência, a alegria pela presença

A alegria pela alegria, simplesmente...

Entretanto, há que se pensar

Quem o tempo todo finge, o tempo todo será

Será alegre, será presente, será dor, será amor

Será encontro, e desencontro, será paz e será guerra

Será pergunta e será resposta, será ida e será volta

Será partida e será chegada, será tudo e será nada

Compreensão e incompreensão, som e silêncio, ..

Será abraço e será saudade, descaso e amizade

Será fogo ardendo no peito, e calmaria à beira- mar

Será aconchego a dois, e será egoísmo depois...

E depois de tudo, será nada

Como uma música inacabada

À espera da melodia...

Será um renascer no dia a dia

E um morrer a cada noite, à espera da noite final

Talvez o poeta seja, mesmo, fingimento

E fingindo mundo afora, vida adentro

Consiga ser feliz, sendo infeliz

Consiga ser amor, em meio a tanto desamor

Consiga ser afeto, em meio a tantos desafetos

E consiga alegrar, embora sinta tristeza

Consiga ser a mão amiga, entre tantas mãos vazias

Afinal, ser poeta é ser único...

E únicos são os tantos e quantos papéis da vida

Da vida de um poeta.

...

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