Tchau, Bento XVI!
O mundo pára hoje para acompanhar a renúncia de Bento XVI. Às 13h (horário de Brasília), seu anel já estará quebrado. O gesto marcará o fim de seu pontificado. Sua Santidade (ele continuará sendo chamado assim) passará a ser o bispo emérito de Roma. Ou o papa emérito, como queiram.
Somente a Igreja Católica, com mais de dois mil anos atravessando a História, é capaz de apresentar ao mundo uma cena igual a esta. Não se via algo parecido há 600 anos. E mesmo assim, alguns teimam em dizer que a Igreja não tem capacidade de resolver os problemas do mundo. Justo ela, perita em humanidade...
A renúncia de Bento XVI foi abordada de maneiras bem diferentes. Alguns trataram como piada, traço indefectível do brasileiro. Outros viram no ato um gesto de desesperança do Sumo Pontífice em relação à Igreja. Houve também quem não ligou para o assunto, assim como aqueles que honestamente interpretaram o que tal gesto significa. Também vi pessoas se admirarem com a coragem e o desprendimento de Bento XVI em sua atitude, colocando-o a partir disso em outro patamar de consideração.
O motivo principal da renúncia de Bento XVI foi seu cansaço. Sua saúde é cada vez mais frágil e a própria voz sai fina, sem vigor, com dificuldade. O Papa Ratzinger, que ingressou no seminário aos 12 aninhos, quer agora um fim de vida tranqüilo e de acordo com suas condições. Quer recolhimento, oração, leituras e estudos. É assim que ele pode continuar ajudando a Igreja, ao mesmo tempo que ajuda a si mesmo.
O pontificado de Bento XVI deixará ao menos quatro marcas: esforço, coragem, humildade e esperança.
Esforço, por assumir a condução da Igreja logo após o queridíssimo, simpaticíssimo e midiático João Paulo II. O então cardeal Ratzinger não almejava o cargo, não o queria. Mas o aceitou, pelo bem da Igreja. Contrariando sua natureza germânica, esforçou-se em buscar a simpatia e a exposição que o cargo lhe pedia. Para um alemão da gema, é algo no mínimo incômodo de se lidar no cotidiano.
Coragem, por assumir essa missão e suportá-la nesses oito anos. No período os católicos nunca se sentiram órfãos. Todos sabíamos das capacidades e intenções do Santo Padre. Estivemos o tempo todo seguros de que ele conduzia a Igreja de acordo com a vontade de Deus. Coragem também por tomar a decisão da renúncia e enfrentar as repercussões mundiais, que não foram poucas.
Humildade por admitir, para o planeta inteiro, que já não tem mais condições físicas de continuar em sua missão. De certa forma, mostrou ao mundo sua fraqueza corporal, enquanto revela mais ainda sua fortaleza espiritual. Não se deixou levar pelo apego ao poder temporal, à comodidade de ser o chefe de todos. Renunciou a ambições que nunca teve e que muitos, mesmo na Igreja, sonham em ter.
Esperança por saber, do alto de seus quase 86 anos, que a Igreja Católica não ficará órfã. Aliás, em dois mil anos ela nunca ficou só. Após o conclave contaremos com outro sucessor de São Pedro. O novo Papa também saberá conduzir os fiéis do mundo inteiro. E isto porque nossa Igreja não coloca suas esperanças apenas na capacidade incompleta dos seres humanos. Nossa confiança está em Deus, em Jesus Cristo e na ação do Espírito Santo em nossos rumos.
O que será da Igreja Católica após a renúncia de Bento XVI? Não sei. Tenho uma vaga idéia, sem certeza alguma. Mas isto é assunto para outro artigo. Hoje é dia de bater palmas para Bento XVI e rezar muito.
Tchau, Bento XVI! Obrigado por sua vida dedicada à Igreja Católica! Receba agora um pouco de tranqüilidade merecida, que sua idade já lhe pede! Continue rezando pelo mundo e nos presenteando com seus escritos! Sua história e exemplo jamais serão esquecidos.
Auf wiedersehen, mein liebe Papst!
Amém.