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Publicado: Quarta-feira, 7 de abril de 2010

Tem um gnomo no telhado

Tem um gnomo no telhado

Fiz parte do elenco de palhaços dos Doutores da Alegria de 2001 a 2005. Foram cinco anos de trabalho e uma infinidade de histórias. De vez em quando, nos momentos mais insólitos, essas histórias me aparecem como se fossem fragmentos de um desses raros filmes que a gente assiste no cinema e nunca mais esquece.

Os palhaços Emily e Cizar Parker visitavam o quarto de uma criança de seis anos. Preparavam-se para uma partida de vôlei. Emily e Cizar prendiam no alto da parede as pontas de uma tira de papel higiênico. Era a rede.

Enquanto Emily prendia a sua ponta do papel higiênico próximo à janela, reconheceu o prédio onde morava Davi, um amigo comum aos dois palhaços. Comemorou surpresa:

- Olha Dr. Cizar, a casa daquele Gnomo amigo nosso!

É que o Davi é bem baixinho.

O menino interessou-se pelo assunto:

- Eu conheço os Gnomos, já li sobre eles. Eles usam roupas verdes e um capuz vermelho!

- Você gostaria de falar com o Gnomo? Eu sei o número do seu telefone.

O menino ficou radiante e disse que sim, queria falar com o gnomo.

Ligaram e quem atendeu ao telefone foi a secretária eletrônica, o Davi não estava.

- Alô Gnomo, eu te amo. Gostaria muito que você aparecesse um dia para mim. Obrigado, um beijo, tchau.

Se acabasse aí, a estória já seria ótima, mas nada como um dia atrás do outro... Cizar levou até a casa de seu amigo Gnomo um macacão verde e um gorro vermelho. Avisou ao amigo que na quinta feira iriam novamente visitar o garoto amante dos Gnomos. Que ficasse de prontidão!

Chegou a quinta-feira e quando Emily e Cizar entraram no quarto do garoto, surpresa! Ele tinha ido embora; havia recebido alta... Não se deve lamentar o fato de uma criança deixar o hospital, mas eles lamentaram.

Eis que novamente: nada como um dia após o outro...

No caso foram trinta dias.

Um mês depois, entram no quarto que fora do menino e quem está lá? Ele! O amante dos Gnomos. Retomaram o fio da meada:

- Você gostaria de ver o Gnomo que mora aí em frente?

- Claro.

Telefonaram para o Davi. Ele estava de saída, iria viajar, mas diante das circunstâncias considerou que valeria a pena se atrasar um pouco.

A avó do menino levou o garoto até a janela. Mal o garoto chegou à janela e o Gnomo abriu a porta que dava para o telhado. É que Davi morava na cobertura do prédio. Ele saiu em passos lentos, pareciam coreografados. O Davi já fez teatro Butô e, finalmente, pode usar tudo que aprendeu. O menino em êxtase perguntou:

- Esse Gnomo é aquele que sobe em árvores?

- Não, esse é aquele que sobe em telhados.

O Dr. Cizar passou o aparelho de telefone para o menino:

- Fale com o Gnomo.

O menino apanhou o telefone:

- Alô, Gnomo?

- Pois não.

Davi, digo o Gnomo, tinha um telefone sem fio.

- Você é o Gnomo?

- Claro que sou, você não está me vendo?

- Então pula em cima daquela árvore, sugeriu o garoto.

- Ah, eu não posso. Estou de viagem marcada, vê esta mala?

Ele trazia uma pequena valise em sua mão direita. O garoto achou o argumento razoável e fez outro pedido:

- Então sobe no telhado.

O Gnomo sentou-se sobre o telhado com muito garbo. Estava adorando aquela brincadeira. O garoto pediu detalhes:

- Para onde você vai viajar?

- Vou visitar minha família lá na floresta.

- E quando você volta? Perguntou aflito o menino.

- Devo ficar um bom tempo por lá, estou com saudades da minha mãe, mas eu volto.

- Oba!

- Só quero te pedir uma coisa.

- Pode falar. O garoto era todo ouvidos.

- Não comente que você me viu, pois muitas pessoas não acreditam em mim. Pode ser que você às vezes não me veja, é que costumo ficar invisível. Mas eu vou estar sempre por aqui.

- Pode deixar.

- Agora, eu tenho que ir. Vou para floresta.

- Eu te amo gnomo.

Tamanha foi a euforia dentro do quarto que difícil era saber quem estava mais empolgado, se o menino, a sua avó ou os dois palhaços.

Duas enfermeiras acudiram apressadas. Vieram conferir o motivo de tamanha balbúrdia. Ficaram olhando maravilhadas o Gnomo que havia encantado o quarto, o garoto, a avó e os palhaços.

Neste momento, entrou a enfermeira chefe com ares de autoridade pronta para restabelecer a ordem.

- O que está acontecendo aqui? Perguntou com ares inquisidores.

- É um gnomo que está no telhado do vizinho. Apressou-se em responder uma das enfermeiras sem sequer se aperceber do tamanho absurdo que havia acabado de dizer.

Como o Gnomo estava ficando atrasado para a sua viagem, encerrou sua aparição. Quis o destino que a partida do Gnomo acontecesse em perfeita sincronia com a chegada da enfermeira-chefe até a janela. Ela olhou e confirmou a sua desconfiança: Não havia Gnomo algum!

Por via das dúvidas indagou ao garoto:

- É verdade que tinha um Gnomo lá fora?

- Gnomo? Aqui? Não. Não vi nenhum.

A enfermeira chefe confirmou suas suspeitas. Que Gnomo que nada! Virou-se para as duas enfermeiras e num tom severo repreendeu-as tal qual faria uma madre superiora:

- Voltem imediatamente ao trabalho! Depois conversaremos.

Saíram as enfermeiras e a superiora, ficaram os palhaços, o garoto e sua avó.

O menino caiu num choro convulsivo, era uma espécie de transe. O Dr. Cizar tentava acalmar o menino, mas nada parecia capaz de tirá-lo daquela crise de choro.
Entre um soluço e outro, o menino recuperou o ar e explicou-se:

- Eu estou chorando de alegria... Estou muito abalado. Façam alguma coisa para eu rir, e num tom suplicante facilitou a tarefa dos palhaços; façam qualquer coisa...
Que dia! Emily e Cizar atenderam aos clamores do garoto. Fizeram uma gag clássica de bater com a cabeça na porta ao tentarem sair do quarto. O menino agradeceu aliviado e disse que agora os palhaços já podiam ir embora, pois já estava mais calmo.

Na visita seguinte àquele hospital, o Dr. Cizar e a Dra. Emily foram interrompidos em seu horário de almoço por uma das enfermeiras que havia testemunhado a aparição do Gnomo. Ela lhes fez um pedido:

- Olha, eu vi o Gnomo e minha colega também, só que ela tem fama de ser meio piradinha... Daí que eu fico meio mal. Vocês não poderiam explicar o ocorrido à minha superiora e confirmar a visita do Gnomo para ela?

- Pois não, vamos pedir ao Gnomo qu

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