Terra baixa
A semente penetrava a cova e o vento girou o moinho com dificuldade. Seus dedos esmagaram a terra seca de ódio. E o rosto entre a sola da bota e aquele maldito solo. Malfadado desejo de vingança esse que caçava seus níqueis entre os puteiros do centro e a cachaça quente. Nada dera certo desde que chegou à cidade em busca do pendrive da falecida patroa. Nada estava errado; chegou no verão, com uma blusa do embarque frio na capital e o bilhete revelando a senha em relevo. O salto da bota tapando uma de suas orelhas e a terra ensurdecendo a outra não lhe deixou se preparar para o cuspe que veio de cima, tocou seu olho e escorreu no rosto se misturando com lágrimas de raiva depois que piscou. "Tudo bem, eu falo!", desmontou. "Já era hora mesmo de a gente começar a conversar", debochou o capanga gargalhando entre os dentes e tragando o cigarro de palha. Bateu uma bota na outra pra derrubar a poeira e desferiu: "Vai, desembucha; qual é a senha?". Ele baixou a cabeça e respondeu: "Eu te amo".