Tiro ao álvaro
As mudanças de hábitos e costumes que se diferenciam de país a país, de regiões a regiões, de cidades a cidades e de pessoas a pessoas, todas em princípio levam a um ordenamento jurídico, social e de crenças, num princípio de respeito mútuo.
Seja o que for que se faça, em quaisquer atividades, simples, necessárias, passageiras, que resultem na satisfação própria e de terceiros.
Cumpriu o seu papel o saudoso Adoniran, com suas cantigas ingênuas até, mas com a capacidade de traduzir o cerne da vida dos moradores de bairros e conglomerados muito longe da alta sociedade.
Entretanto, nem a casta mais favorecida deixa de se servir e aproveitar da veia inspirada desse personagem que se fez inesquecível na quase ingenuidade de suas inspirações. Em síntese, serviu a si e a todos.
Pudessem os cidadãos desferir tiros certeiros, não de morte mas construtivos, de modo a serem felizes e úteis ao mesmo tempo.
Vem justamente daí o despropósito da inversão nas intenções generalizadas das pessoas que buscam salvar-se a si e se isolam para construir, mormente neste Brasil desorientado, um “modus vivendi” de liberdade total. A partir desse ponto se instala a desordem. Regras, leis, princípios, só no papel.
O intrincado contexto social, mal governado e corrupto sem cobro, expandiu o falso estatuto do salve-se-quem-puder.
Ninguém hoje controla nada. Agir à solta e impune, disparar tiros de instabilidade coletiva toda hora, essas as diretrizes do brasileiro.
Um exemplo, o mais comezinho, o da incapacidade de regularizar-se o uso das barulhentas motocicletas, indiferentes os seus condutores ao elevado percentual de acidentes em que as vítimas principais são eles mesmos. Uma temeridade de seu surgimento veloz e inesperado, pela direita ou pela esquerda, no trânsito urbano.
Ora, se eles próprios seguem a cartilha do salve-se-quem-puder, é igualmente ineficiente o aparato legal e policial para contê-los. Por similaridade, em setores outros assumem liberdade da ação solta, tresloucada ou não. Tudo passa a ser a visto como admissível.
Outra banalidade, - em países civilizados um comportamento normal e decente - o dos brasileiros e brasileiras que perambulam com seus cães desprovidos de material a evitar sujeiras. Ousam parar diante de grades de portões, como se ali fosse um escoadouro. Deslavada falta de educação.
E aqui o pião rodopia, rodopia e recai no lugar comum: educação.
Virou notícia atraente e de toda hora, agressão de alunos a professores. Na missa de domingo, ao fecho, os sacerdotes chamaram as mães à frente para a devida homenagem ao dia a ela dedicado. Numa Paróquia, nessa saudação, o celebrante concitou todas elas à oração, com a particularidade de que todos os fiéis ali presentes incluíssem nas suas preces uma intenção especial. A esperança de que haja mais respeito dos filhos para com suas genitoras.
- Vocês sabem como as coisas estão, concluiu o sacerdote.
Oxalá cada qual saiba conduzir bem suas cantarolas e ver mesmo que na simplicidade e na educação se criam raízes de uma sociedade aceitável.
Que todos acertem também o tiro ao Álvaro.