Publicado: Sexta-feira, 25 de abril de 2008
Toma, Pai!
Recordo-me sempre da minha infância. Não que ela esteja ainda tão próxima de mim, mas sim porque é sempre um período feliz na vida da gente. Infelizmente só tomamos consciência do fato conforme vamos crescendo. E assim vamos somando às lembranças aquele sentimento ao qual nomearam de “nostalgia”, que os poetas tentam explicar e a gente não sentir.
Figura sempre presente na minha infância era o meu pai: meu guardião, meu protetor. Levado que era, sempre tomei algumas broncas e uns tapas inesquecíveis. Na época eu chorei, como qualquer criança. Mas, contrariando a moderna pedagogia, hoje penso que foram tais corretivos que me deram limites e, por conseqüência, acabaram contribuindo para a formação do meu caráter.
Tenho várias recordações. Quando minha irmã nasceu, nossa mãe passou alguns dias internada no hospital. Ficamos somente papai e eu na casa. Durante o dia eu passava a manhã na escolinha e a tarde na casa dos vizinhos. Meu pai chegava ao cair da noite e, mesmo sendo criança, eu podia perceber seu afobamento em querer fazer tudo direitinho, igual minha mãe fazia: dar-me banho, trocar minha roupa, preparar a janta. Lembro que jantamos ovo frito a semana inteira.
Quando criança, vivia pedindo ajuda ao meu pai. Se precisava abrir a embalagem de um brinquedo novo, pedia ajuda. Se precisava abria a caixa de sucrilhos, pedia ajuda. Se precisava alcançar algo em cima do armário, pedia ajuda. Enfim, sempre que alguma necessidade infantil aparecia, era o meu pai quem resolvia as coisas.
Na adolescência, a única coisa a mudar foram alguns anos acrescentados. As necessidades também mudaram. Mas o solucionador delas permaneceu o mesmo: meu pai. Se precisava de um tênis novo, pedia ajuda. Se precisava de dinheiro para o cinema, pedia ajuda. Se precisava de um livro escolar, pedia ajuda. Se precisava comprar um presente para o aniversário de alguém, pedia ajuda. Enfim, sempre que alguma necessidade adolescente aparecia, era o meu pai quem resolvia as coisas.
Mais alguns anos se passaram e veio a juventude. O solucionador de problemas permaneceu o mesmo: meu pai. Se precisava xerocar uma apostila, pedia ajuda. Se precisava pagar parte da mensalidade da faculdade, pedia ajuda. Se precisava cobrir minha conta no banco, pedia ajuda. Enfim, sempre que alguma necessidade juvenil aparecia, era o meu pai quem resolvia as coisas.
Alguns anos se passaram novamente, veio a fase adulta. Os mesmos anos que me trouxeram mais maturidade, levaram embora o meu querido pai. Hoje as necessidades continuam existindo, bem diferentes das de outros tempos. E agora já não posso contar com o meu solucionador...
Não mesmo? Estarei certo nesse pensamento? Felizmente não! Acima de todos os pais que já passaram pelo mundo, está o grande Pai Celeste. Aquele que vê todas as nossas necessidades, enxerga em nosso íntimo as carências que temos. Aquele que, sendo a fonte de todo o amor, sabe cumular seus filhos de coisas boas.
Quando surge algum imprevisto para o qual não tenho solução, ainda faço como aquela criança que um dia fui: recorro a alguém superior. Com a fé de menino, sabedor de que o pai poderá lhe abrir uma embalagem de sucrilhos, entrego as minhas necessidades ao Pai Celeste com a certeza de que saberá dar a elas um final.
Às vezes, mais do que nos enredar em novenas e promessas para alcançar de Deus as graças que necessitamos, mais vale essa atitude de entrega sincera. Nesses momentos, lembro a criança que pede: “Toma, pai!”. E vejo, pegando em suas bondosas mãos, a figura forte e confiante de um Pai que responde: “Dá aqui, meu filho... Papai resolve!”. Afinal, perto de Deus o que somos nós, a não ser ingênuas crianças que mal enxergam as várias facetas da vida?
Não importa a idade que você tem. Quando surgir algum problema sem solução, entregue-o ao Pai. Com seu coração cheio de amor, ele certamente saberá o que fazer. Seu coração paterno encontrará sempre a melhor saída para nossas angústias.
Amém.
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