Totus Tuus e Dom Amaury
O saudoso Dom Amaury Castanho defendia com empenho a ortodoxia da Fé. Para além de qualquer crítica que possam fazer ao seu ministério, ninguém o pode acusar de ser relapso nesse sentido. Não tinha medo de entrar em “polêmicas” quanto estava em jogo a Verdade do Evangelho. Lembrando que, polêmicas, são os outros que fazem. A defesa dos valores evangélicos está acima de discussões bobas.
Justamente por essa sua postura, Dom Amaury era considerado por muitos como “conservador”. O que, no Brasil, pode abrir espaço para uma interpretação errado no sentido de que, pensando em conservar a Doutrina, não há preocupação em se dedicar a causas sociais. Nada mais enganoso! Dom Amaury sempre incentivou e apoiou obras sociais caritativas.
Trabalhando com ele, fui testemunha das inúmeras cartas que recebia solicitando auxílio em favor de inúmeros projetos sociais Brasil afora. Também recebia correspondência de fiéis pedindo ajuda e jamais o vi jogando qualquer delas no lixo. Sempre fazia questão de ajudar a todos e a cada um. Gastava um bom tempo com essa prática e uma boa soma de recursos também.
Na Diocese de Jundiaí, por exemplo, foi ele o articulador que viabilizou a Cáritas Diocesana. Também apoiou serviços como a Casa Santa Marta e o SOS, símbolos do acolhimento aos moradores de rua. Dom Amaury foi um praticante da caridade, nos servindo de exemplo e de incentivo para fazermos o mesmo, dedicando-nos a algum projeto social.
Em Itu, de modo específico, recordo-me que acompanhava as atividades da Comunidade Totus Tuus com alegria. Ele confiava tanto na juventude! Ficava feliz em saber de jovens que se dedicavam aos moradores de rua. Como trabalhávamos juntos o assunto sempre surgia. Às vezes ele perguntava. Outras vezes eu me adiantava contando-lhe algum acontecimento ou novidade.
Quando finalmente surgiu a oportunidade de se criar a Chácara da Totus, na Vila Cleto, foi necessário pedir ajuda das pessoas em geral para manter o lugar funcionando. Decidiu-se então fazer uma espécie de carnê para colaboradores, que contribuiriam mensalmente com qualquer valor. O dinheiro seria para manutenção do local, pagamento de contas, compra de comida e remédios, etc.
Nessa época Dom Amaury já era bispo emérito e ainda trabalhávamos juntos. Lembro-me, com emoção, do dia em que apareci na casinha dele, no jardim interno da Igreja do Bom Jesus, com um carnê da Totus em mãos. Expliquei-lhe as necessidades da Comunidade e o bispo não pensou duas vezes: não só tomou para si um carnê como foi o primeiro a se tornar “sócio”. Na ocasião, disse-me: “Assim, filho, quando as pessoas virem que o bispo puxou a fila, quem sabe aparecem muitos para colaborar, não?”.
Recordo Dom Amaury e assim agradeço também a tantos outros sacerdotes, religiosos e religiosas, leigos e leigas, que sempre colaboraram com a Totus Tuus naquilo que puderam. Sem esse auxílio ao longo dos anos, a nossa Comunidade não teria conseguido levar adiante a sua Missão nessas duas décadas. Que Deus possa retribuir a generosidade de cada um. E que a Providência Divina continue abençoando a Comunidade Totus Tuus em tudo quanto necessita para servir aos pobres e pequeninos do Evangelho.