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Publicado: Sexta-feira, 12 de junho de 2009

Trapalhada ortográfica - parte 2

Apesar de criar polêmica em 2009, a reforma ortográfica é assunto antigo entre as instituições diretamente ligadas ao seu estudo. Trata-se de assunto espinhoso em todos os países lusófonos.
 
Para dar cabo de tarefa tão difícil, foi criada uma comissão com representantes de entidades ligadas ao assunto, membros de governo dos países envolvidos, educadores, donos de editoras e da imprensa. Os países africanos e o Timor Leste, fiéis ao espírito colonial, delegaram a Portugal que os representassem em todas as etapas debatidas. Ou seja: o que Portugal decidir será acatado por eles.
 
O Brasil foi quem mais lutou pela implantação da reforma ortográfica. Praticamente apressou os trâmites todos e impôs sua pressa aos outros países da comunidade lusófona.
 
Fico com a sensação de que por aqui o tema foi tratado com certa arrogância. O fato de sermos quase 200 milhões de pessoas a utilizar a Língua Portuguesa, teria nos dado direitos superiores sobre ela. Direitos maiores até mesmo em relação aos portugueses, os verdadeiros “donos” do idioma.
 
Trata-se de algo bem ao gosto dos ufanistas que, de tempos em tempos, criam para o Brasil inúmeras razões para se vangloriar. Uma das queixas de especialistas quanto à reforma ortográfica é que ela não foi estudada em conjunto e com a calma necessária. Foi proposta unilateralmente pelos brasileiros, que esperavam apenas a concordância dos demais países.
 
Não há retorno para a reforma ortográfica no Brasil. Ela veio mesmo para ficar e estará plenamente em vigor no ano 2013. Mas em Portugal a história é outra. A lei foi sancionada, mas não foi regulamentada pelo país. Ou seja: está aprovada, mas não determina “se”, “quando” e “como” deverá ser realmente implantada.
 
Há um bom motivo para isso. Nossos patrícios são contra a reforma ortográfica nos termos estabelecidos atualmente. Todos os setores da sociedade portuguesa posicionam-se contrariamente: imprensa, escritores, professores, intelectuais, editores. Não sendo bobos, muitos congressistas e membros do governo, assim como lideranças políticas portuguesas, também são contra mexer na língua-mãe.
 
Pelas leis de Portugal, nenhum livro didático em utilizado no país pode cair em desuso antes de 6 anos. Na prática significa que, caso a reforma ortográfica seja aprovada por lá ainda este ano, apenas em 2015 começará a ser ensinada nos bancos escolares.
 
O fato (ou facto, como diriam os patrícios), é que provavelmente a reforma ortográfica não será regulamentada em 2009. Só Deus sabe quando tal providência será tomada, se é que será tomada mesmo.
 
O máximo que pode acontecer é Portugal e demais países lusófonos desconhecerem a reforma ortográfica implantada no Brasil. Então ficaríamos às voltas com mudanças por aqui, enquanto os demais seguiriam escrevendo como sempre fizeram.
 
Neste ponto, chega-se a critica por um trabalho feito apressadamente: a reforma inventada para unificar a língua acaba por gerar diferenças ainda maiores dos que as já existentes anteriormente.
 
Nós somos brasileiros e não desistimos nunca. Mas em certos casos até que seria bom deixar o ufanismo de lado, aceitar o mundo (e a língua) como ele é, tratando de gastar tempo e raciocínio na solução de problemas realmente importantes para a nossa gente.
 
(Continua)
 
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