Publicado: Sexta-feira, 19 de junho de 2009
Trapalhada ortográfica - parte 3
Quando se fala em reforma ortográfica, várias coisas passam pela nossa mente. Pensamos no ler e no escrever, em livros e dicionários, em professores e educadores, em questões de literatura ou em exames vestibulares. Poucos refletem sobre os custos reais que algumas simples mudanças na língua pátria podem acarretar.
Apesar da grande confusão que vem causando para a maior parte dos brasileiros, a atual reforma ortográfica envolveu apenas 5% de todas as palavras utilizadas em nosso vocabulário. Mas mesmo este percentual minúsculo pode trazer prejuízos que, na maioria das vezes, é sentido com mais intensidade pelo povo mais simples.
Infelizmente é mais fácil achar uma revista “Caras” nas casas brasileiras do que um dicionário da Língua Portuguesa. Há crianças que passam por todas as etapas do Ensino Fundamental sem jamais ter consultado o “pai dos burros” e existem até bibliotecas públicas que não possuem um exemplar sequer para consultas.
Fora o descaso com a educação e a boa formação escolar básica dos alunos brasileiros, há o fator econômico e social. Em muitas regiões do Brasil a maioria das pessoas luta pela sobrevivência. Vivem apenas para garantir o sustento diário, a compra do mês, os remédios necessários, os impostos devidos. Nesse contexto, dicionário vem um lugar muito distante na lista de prioridades.
O que não se pode ignorar é que, com a reforma ortográfica, mexe-se no bolso dos cidadãos. O dicionário de outrora perde parte de sua valia, principalmente no que tange ao uso ou não do hífen, a certas mudanças na acentuação e ao banimento do trema, bem como ao retorno das letras “k”, “w” e “y” ao alfabeto.
Pensemos no estudante que gastou a mesada comprando um dicionário, agora antigo. Pensemos no pai de família que investiu seus parcos recursos na compra de um dicionário, agora ultrapassado, para o filho estudar. Se usarmos o raciocínio lógico, o mais correto é que comprem outro dicionário. Mas na prática, nem sempre isso pode acontecer com tanta facilidade, por pura falta de dinheiro.
Se a reforma ortográfica fosse algo para a evolução educacional dos brasileiros e brasileiras, o governo deveria investir na doação de um dicionário para cada família em todo o território nacional. E também na mesma distribuição para brasileiros residentes no estrangeiro, além de bibliotecas públicas do Brasil e do exterior, assim como em embaixadas e organismos internacionais.
É claro que uma providência dessas causaria um grande custo aos cofres públicos. Mas como somos nós, com nosso trabalho e o pagamento de impostos, quem afinal sustentamos os governos, ficaríamos todos quites. O problema é que, assim como o cidadão comum, os governos no Brasil também vivem com o pires na mão. Faltam verbas para hospitais, creches, penitenciárias, etc. Não há como gastar milhões de reais na publicação e distribuição de dicionários.
Mesmo que o governo federal resolvesse criar um “Programa Dicionário Para Todos”, hoje seria impossível. Há muitas regras na Língua Portuguesa ainda não definidas pela nova reforma ortográfica. Ainda estão em estudo e debate e assim o que vale para o dicionário “A” não é aceito pelo dicionário “B”. Forma-se uma celeuma gigantesca entre os estudiosos da língua e nem mesmo a Academia Brasileira de Letras consegue chegar a um consenso.
Se nem mesmo os estudiosos do tema entendem a reforma ortográfica, imagine o cidadão comum? Aquele que já não sabia escrever “auto-estrada”, saberá agora se o correto passa a ser “autoestrada”?
(Continua)
Apesar da grande confusão que vem causando para a maior parte dos brasileiros, a atual reforma ortográfica envolveu apenas 5% de todas as palavras utilizadas em nosso vocabulário. Mas mesmo este percentual minúsculo pode trazer prejuízos que, na maioria das vezes, é sentido com mais intensidade pelo povo mais simples.
Infelizmente é mais fácil achar uma revista “Caras” nas casas brasileiras do que um dicionário da Língua Portuguesa. Há crianças que passam por todas as etapas do Ensino Fundamental sem jamais ter consultado o “pai dos burros” e existem até bibliotecas públicas que não possuem um exemplar sequer para consultas.
Fora o descaso com a educação e a boa formação escolar básica dos alunos brasileiros, há o fator econômico e social. Em muitas regiões do Brasil a maioria das pessoas luta pela sobrevivência. Vivem apenas para garantir o sustento diário, a compra do mês, os remédios necessários, os impostos devidos. Nesse contexto, dicionário vem um lugar muito distante na lista de prioridades.
O que não se pode ignorar é que, com a reforma ortográfica, mexe-se no bolso dos cidadãos. O dicionário de outrora perde parte de sua valia, principalmente no que tange ao uso ou não do hífen, a certas mudanças na acentuação e ao banimento do trema, bem como ao retorno das letras “k”, “w” e “y” ao alfabeto.
Pensemos no estudante que gastou a mesada comprando um dicionário, agora antigo. Pensemos no pai de família que investiu seus parcos recursos na compra de um dicionário, agora ultrapassado, para o filho estudar. Se usarmos o raciocínio lógico, o mais correto é que comprem outro dicionário. Mas na prática, nem sempre isso pode acontecer com tanta facilidade, por pura falta de dinheiro.
Se a reforma ortográfica fosse algo para a evolução educacional dos brasileiros e brasileiras, o governo deveria investir na doação de um dicionário para cada família em todo o território nacional. E também na mesma distribuição para brasileiros residentes no estrangeiro, além de bibliotecas públicas do Brasil e do exterior, assim como em embaixadas e organismos internacionais.
É claro que uma providência dessas causaria um grande custo aos cofres públicos. Mas como somos nós, com nosso trabalho e o pagamento de impostos, quem afinal sustentamos os governos, ficaríamos todos quites. O problema é que, assim como o cidadão comum, os governos no Brasil também vivem com o pires na mão. Faltam verbas para hospitais, creches, penitenciárias, etc. Não há como gastar milhões de reais na publicação e distribuição de dicionários.
Mesmo que o governo federal resolvesse criar um “Programa Dicionário Para Todos”, hoje seria impossível. Há muitas regras na Língua Portuguesa ainda não definidas pela nova reforma ortográfica. Ainda estão em estudo e debate e assim o que vale para o dicionário “A” não é aceito pelo dicionário “B”. Forma-se uma celeuma gigantesca entre os estudiosos da língua e nem mesmo a Academia Brasileira de Letras consegue chegar a um consenso.
Se nem mesmo os estudiosos do tema entendem a reforma ortográfica, imagine o cidadão comum? Aquele que já não sabia escrever “auto-estrada”, saberá agora se o correto passa a ser “autoestrada”?
(Continua)
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