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Publicado: Sexta-feira, 25 de maio de 2007

Um Ano Sem Dom Amaury

No dia 1o de junho se completou o primeiro ano de falecimento de Dom Amaury Castanho, que por muito tempo exerceu o episcopado na Diocese de Jundiaí. Primeiro como bispo coadjutor, depois como sucessor de Dom Roberto Pinarello Almeida e em seguida como bispo emérito ao entregar a administração e o pastoreio diocesano a Dom Gil Antônio Moreira.
 
Não há como deixar de lembrar dele, principalmente por causa da convivência diária que passamos a ter depois que passou a residir em Itu. Na Assembléia Geral da CNBB, realizada em maio na cidade de Indaiatuba (SP), vários bispos notaram a ausência de Dom Amaury. Em Assembléias eletivas, que acontecem a cada quatro anos, ele ficava especialmente inquieto. Passava horas conversando com outros bispos e “articulando”, analisando quem seria a melhor opção para os cargos principais da entidade.
 
Antes da fase terminal de sua doença Dom Amaury fez da Igreja do Bom Jesus o seu refúgio. Instalado em seu pequeno apartamento, ali passava horas lendo e escrevendo, assistindo o noticiário e rezando, atendendo pessoas no telefone ou em visitas pessoais. No verão as janelas permaneciam abertas e a luta contra os pernilongos o irritava. No inverno tudo ficava fechado, seu aquecedor elétrico ajudava a melhorar o ambiente.
 
Durante dois anos estive com Dom Amaury quase que diariamente. Mesmo nos dias em que não trabalhávamos eu passava pela Igreja do Bom Jesus para falar com ele. Eram encaminhamentos de trabalho, mas não apenas isso. Eram conversas sobre as manchetes do dia, os acontecimentos na cidade, as visitas que lhe faziam e as pessoas que lhe telefonavam. Eram momentos de descontração, com as anedotas características que contava. Eram até momentos de preocupação em que, do alto da grande experiência adquirida com os anos, ele não se importava em pedir a opinião de um jovem que pouca coisa ainda sabe da vida.
 
O que Dom Amaury estaria fazendo hoje, se não tivesse morrido? Certamente o mesmo de sempre: escrevendo seus inúmeros artigos, lendo jornais diariamente e fazendo recortes das notícias mais interessantes, celebrando missas na Igreja do Bom Jesus, dirigindo o seu Peugeot e provavelmente teria ficado entusiasmado com a visita de Bento XVI ao Brasil.
 
Atualmente já não vou com tanta freqüência à Igreja do Bom Jesus. Não é por nada, mas simplesmente porque a minha rotina se alterou. Ocasionalmente ainda passo por ali, para algum contato com o Padre José Ignácio Sonsini e cada vez que entro naquela igreja me recordo de Dom Amaury, de como ele gostava daquele lugar.
 
Nossa passagem pela terra é efêmera, nossa existência é mais frágil que cristal. No fim o que resta mesmo são as palavras que dissemos, as coisas que escrevemos, os exemplos que demos, as amizades que fizemos, o amor que espalhamos. Os bens materiais, as posses, os valores, tudo perde o sentido.
 
As pessoas queridas, quando partem rumo ao Pai Celeste, fazem muita falta. Na ausência de um ano, parece que se passaram cinco. E às vezes fica até uma certa dúvida sobre se não poderíamos ter aproveitado melhor a companhia de quem partiu: conversando mais, partilhando mais momentos de alegria, pedindo mais conselhos, dizendo tudo o que realmente precisaria ser dito.
 
Todos esses pensamentos passam pela cabeça quando nos vemos diante da morte e da saudade dos que já se foram. Mas não servem para muito nada prático. Afinal, quem morreu morto está, não há o que fazer. A única coisa proveitosa a ser feita é passar a dar mais valor à companhia daquelas pessoas que amamos e que ainda estão presentes em nossa vida.
 
Amém.
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