Um coração manso e humilde
“A violência e a injustiça têm raízes profundas no coração de cada indivíduo, de cada um de nós.” (João Paulo II)
A Igreja nos chama à conversão, ou seja, nos lembra que precisamos rever constantemente nosso modo de viver. Afinal temos como meta final uma vida santa. O modelo é Cristo, os parâmetros estão no seu Evangelho.
É claro que a conversão não é nada fácil. Vivemos num mundo onde é preciso aproveitar a vida materialmente. Corremos atrás do sucesso, sem o devido cuidado com seus efeitos colaterais, aflitos diante de tantas ofertas e oportunidades, de tantas “necessidades fabricadas” pelo sistema.
O homem moderno tem um coração nervoso, agitado, incapaz de amar verdadeiramente, incapaz de descansar, de ter paz. Não temos olhos, nem tempo para o bem comum, para o outro.
Vale aqui lembrar o tempo de nossos avós, ou mesmo de nossos pais. A vida era mais simples, tinham o necessário e o suficiente. Os verdadeiros valores morais regiam suas vidas. Estavam contentes assim, uma casa na medida das necessidades, um carro que fosse apenas para facilitar o transporte. A televisão era apenas um meio de entretenimento e não oferecia os perigos atuais; não era a “dona” dos nossos gostos, não ditava as normas para nossa vida, não definia o que é bom para nós...
Bastava uma boa profissão, um bom emprego. Não eram necessários vários diplomas, nem ser conhecedor de duas ou três línguas estrangeiras.
Não eram escravos da pressa, da distância, da agitação e da falta de sossego. O descanso era sagrado, especialmente nos domingos e feriados.
Viviam muito bem sem o celular, hoje uma verdadeira febre, que se transforma num vício incontrolável, dominador.
Então vamos voltar no tempo? É claro que não. Mas isso precisa nos servir de alerta: estamos mudando nossos hábitos, gostos e comportamentos depressa demais, sem muito pensar nas consequências e até sem preparar as armas para enfrentar tantas mudanças.
Precisamos de um coração leve e simples, livre das complicações e do peso da vida material. Multiplicamos os problemas e as necessidades que só trazem angústia e sofrimento.
Falta humildade em nossos corações; humildade não significa acomodação, conformismo, não significa passar de bobo, mas admitir que não podemos tudo e que não fomos concebidos para vivermos sozinhos; podemos e precisamos contar com os outros, contar com Deus, acima de tudo.
Coração manso e humilde, coração dos santos, coração que tem Deus morando nele, livre de rancor e de ódio, compassivo, um coração que não torna a vida mais pesada do que já é.
Precisamos vencer o orgulho, a arrogância, a ambição. Precisamos vencer nossas vaidades que nos levam à necessidade de ser honrado, louvado, consultado, aprovado... Quase não resistimos se não somos os mais amados, os mais estimados, os escolhidos ou preferidos.
Justifica-se, assim, toda preocupação com o coração humano que, se por um lado é a sede do amor e capaz de atos de bondade, é também o responsável pelas desordens que o homem pode cometer contra ele próprio, contra os irmãos e contra Deus. Sejamos humildes e peçamos: Senhor, fazei nosso coração semelhante ao vosso!