Um Lobisomem Americano em Londres

Antes de escrever essa crítica, tenho um outro blog pessoal que se chama “Vida Cinéfila” e em algumas críticas de filmes de terror comento que esse gênero perdeu sua essência. Os filmes de hoje em dia não tem mais aquele ar místico, cheio de mistérios e atos que desafiam nossa sanidade.
Hoje em dia o terror está morto, tirando alguns filmes, mas a maioria se concentra em psicopatas e justiceiros com senso de justiça distorcido como visto na franquia “Jogos Mortais”. Mas o terror perdeu aquele senso de brincar com a mente. Por exemplo, há poucos filmes de exorcismo que invocam aquela tensão vista em “O Exorcista” (do diretor William Friedkin). O filme pode ser datado em algumas coisas, mas ainda continua assustador como se tivesse sido lançado ontem. Outros exemplos de filmes que mexem com a nossa imaginação é: Chucky, Sexta Feira 13, A Hora do Pesadelo e o clássico das sessões da tarde “Poltergeist” e esse último ainda mais pelas bizarras lendas que cercam o filme, como a “casa aonde foi filmado pegou fogo” “a irmã mais velha da família, foi assassinada pelo namorado” e o mais bizarro é que a atriz principal “Heather O'Rourke” morreu logo após as filmagens da terceira parte do filme.
Mas esse tom místico se perdeu hoje em dia. Pensando nisso revi “Um Lobisomem Americano em Londres”, um excelente filme de John Landis, que anos depois gravaria outro clássico, e revolucionaria o mundo da musica para sempre, que foi a gravação de “Thriller” de Michael Jackson.
O filme também contou com a presença de Frank Oz, que é ninguém menos, a pessoa por trás dos Muppets, Vila Sésamo e manusear “o mestre Yoda” em Star Wars nos Capítulos V e VI da saga.
Apesar do elenco soberbo a historia também não fica para trás. O filme foi escrito e dirigido por Landis. Ele conta a historia de dois amigos americanos que vão fazer um mochilão pela Europa, começando pelo interior da Inglaterra. David Kessler (David Naughton) e Jack Goodman (Griffin Dunne) estão passando por uma cidade interiorana, quando eles entram em um bar. Os moradores os recebem com hostilidade e um ar de mistério cerca o local. Logo a hostilidade se quebra, quando eles dizem que são americanos e só estão de passagem. Mas a curiosidade dos rapazes com um pentagrama na parede faz essa tensão voltar à tona, eles são expulsos do bar e quando eles saem, um morador fala para eles “fiquem na estrada, não vão pelo pântano e cuidado é noite de lua cheia”. O legal nessa parte é como os personagens não são idiotas ao se perguntarem o que ele quer dizer com aquilo! “Logo eles juntam as peças e falam: - Eles acreditam nessa baboseira de lobisomem”. Eles caminham pela estrada, mas logo se perdem e numa cena digna de tubarão, onde você não vê o monstro, mas sente que ele está perto e a tensão aumenta é genial. Até que Jack é atacado por um lobo e a natureza de David o faz correr de medo. Logo ele recobra os sentidos, voltando para ajudar o amigo, mas é tarde demais. Jack está morto e o lobisomem ataca David. Os habitantes da cidade tentam encontra-los e acabam matando o lobisomem.
David ainda está vivo e se encontra em um hospital em Londres, sobre os cuidados da enfermeira Alex Price(Jenny Agutter) e do médico J.S. Hisch(John Woodvine). Ele acorda ainda em choque pelo ataque e pergunta de Jack e logo descobre que o seu amigo não sobreviveu. A policia acha que eles foram atacados por algum maluco, mas David sabe a verdade e em outra cena digna do ótimo roteiro e direção de Landis é o suspense. Você sabe que David vai se transformar, mas Landis coloca alguns elementos antes: como a cena em que se passa na casa de David na América, e isso mostra outra sacada genial, por que nessa parte não explica em momento nenhum como você chegou nessa cena, ela simplesmente aparece e está lá. A cena basicamente mostra a família de David em casa e quando batem na porta “Lobisomens Nazistas” aparecem em cena,mas lobisomens nazistas? Por que isso no filme? Simples! Landis juntou o medo de David em um lugar só. Quando os nazistas estão de Lobisomens já é um pressagio dizendo que David não vai voltar para casa porque algo ruim vai acontecer com a família dele. E como não juntar essas duas partes, o medo com o inconsciente, e aproveitando que David é judeu, Landis usa esse medo a favor dele na cena e constrói uma das cenas mais aterrorizantes. Por que mesmo quando já estão em cena os “lobisomens nazistas” você ainda fica com medo. Eles matam toda a família de David e deixam-no olhando e depois o matam. Isso é um pressagio claro da morte já anunciada para o protagonista do filme.
Quando David sai do hospital, ele fica na casa de Alex com quem ele tem um romance. No começo as coisas quase não se alteram na vida de David, mas ele começa a receber a visita do seu falecido amigo Jack que o avisa que o avisa de sua transformação em lobisomem e vai matar pessoas. A única solução para David quebrar a maldição do lobisomem seria ele se matar, assim todas as almas que ele matou seriam libertadas e seguiriam seu caminho. Claro que David não acredita nisso e na noite de lua cheia ele se transforma. A cena da transformação é uma das coisas mais bem feitas que já vi na vida! É incrível que mesmo num filme que é datado, pois se passa em 1981, sobreviveu ao tempo e até hoje 32 anos depois ainda assusta e emociona o publico. Isso mostra o alto grau de profissionalismo das pessoas envolvidas na produção do filme.
O filme segue um caminho interessante a partir daí. Ele mostra a reação das pessoas ao redor de David. Nunca falo da minha vida pessoal nas criticas, porque isso não é a função de um bom crítico colocar elementos da sua vida em um artigo, mas vou abrir uma exceção para esse filme.
Um lobisomem americano em Londres, passa para nossa geração anos 80, como um filme adolescente de terror. Mas vou um pouco além, o filme não deixa a desejar em momento algum. Trata-se de um dos melhores filmes de terror já feito. As cenas, cada detalhe da maquiagem, o roteiro, atores, locação, câmera e luz foram pensados com carinho e é simplesmente magnífico. Isso mostra como devemos voltar ainda mais ao começo das coisas seja nos filmes, musica ou na vida.
Às vezes é bom ver que nem tudo que está na nossa frente é o melhor. E a prova disso é como um filme de 32 anos supera o preconceito de filme B e vira um filme A+. Se a indústria do cinema voltasse um pouco e abaixasse o nariz e perdesse o medo de tentar fazer algo novo e não mais do mesmo, você iria ver que existem mais coisas legais e bacanas para assistir. E quem diria que o gênero de terror dos anos 80, seria hoje em dia a coisa mais original que existe no mercado bilionário dos filmes.