Um pouco da história de Itu e sua participação no mundo das bicicletas
Com a doação da sesmaria nos campos de Piratininga, então pertencentes à capitania de São Vicente, por Martin Afonso de Souza a Domingos Fernandes e seu genro, Cristóvão Dinis a mando de D. João III, em 1604, dava-se inicio a uma jornada de grandes acontecimentos a se registrar na história do Brasil. Com a construção de uma capela dedicada a Nossa Senhora da Candelária, em 2 de fevereiro de 1610, por Domingos Fernandes no caminho que levava ao velho porto de Araritaguaba (Porto Feliz/SP) – local conhecido como Utu-Guaçu - localizada na boca do sertão, o lugarejo se tornou um importante entreposto entre Santana de Parnaíba/SP e o velho porto do rio Tiête, local de onde se partiam as bandeiras e monções rumo a Cuiabá e Mato Grosso, em busca de riquezas como o ouro e pedras preciosas, além do aprisionamento de indígenas, para posterior utilização como mão-de-obra escrava.
O lendário rio Tiête, cujo nome na língua tupi quer dizer “rio grande e caudaloso”, que hoje, em razão da cobiça e do descaso de nossos governantes e empresários com o meio ambiente, agoniza e foi transformado no maior esgoto a céu aberto da América Latina, onde um dia foi o principal caminho nessa hercúlea empreitada, pois numa magistral obra da “teimosia” da natureza, é o único rio que nasce próximo ao mar, no município de Salesópolis/SP, e corre ao contrario, em direção ao interior, para desaguar finalmente no rio Paraná. Foi atravéz dessa peculiar característica que o velho rio Tiête, hoje, vergonhosa e criminalmente abandonado, cumpriu no passado sua predestinada missão de “semear” centenas de cidades ao longo de seu curso, a partir da rota desses destemidos bandeirantes que inclusive, foram os principais responsáveis pelo alargamento das fronteiras geográficas do Brasil.
Colonizado por portugueses, a religião católica sempre foi fator marcante no contexto histórico da formação do Brasil, não muito diferente da cidade de Itu, que teve antes da sesmaria a passagem da “Maniçoba”, atividade jesuíta de catequização de indígenas que, até o momento, não se sabem afirmar precisamente o local exato onde tal missão ocorreu, pela utilização da rota dos bandeirantes e pelas principais Ordens Religiosas no Brasil.
Em 1750 floresce na Vila de Ytu a economia açucareira. A Vila se tornou o maior centro produtor de cana-de-açúcar da capitania. Foi o início de um período de prosperidade, riqueza e crescimento populacional. A vila ainda transformou-se em centro bancário e comercial. O açúcar trouxe a abertura de novas ruas, colégios, novos edifícios religiosos e uma linha de correio em 1800. A fase de maior crescimento aconteceu entre 1836 e 1854. A importância econômica e política da vila ituana fizeram com que, em pouco tempo fosse elevada à condição de cidade. Em 18 de abril de 1873 acontecia em Itu uma importante reunião entre fazendeiros, religiosos e republicanos no sobrado dos Almeida Prado o que tempos depois veio se denominar Convenção Republicana, importante fato que contribuiu para a Proclamação da República em 15 de novembro de 1889, livrando-nos das ordens e explorações feitas pela coroa portuguesa.
Com o fim da cultura da cana-de-açúcar e da escravidão no final do século XIX vieram um grande número de imigrantes para o Brasil, principalmente para a cidade de São Paulo, desembarcados no porto de Santos e São Vicente/SP e posteriormente encaminhados para o interior, para o cultivo do café, em sua maioria de origem européia como italianos, espanhóis e alemães, além dos japoneses para o cultivo do algodão, que com eles, além de suas culturas e costumes, trouxeram também em suas bagagens várias novidades: ferramentas, máquinas, instrumentos musicais, utensílios domésticos como, móveis, máquinas de costura, bicicletas, jogos e brinquedos, o que veio a influenciar e muito na cultura local, que até então era uma cultura de caipiras de origens caboclas e mamelucos.
As bicicletas eram muito usadas na Europa como meio de transporte no final do século XIX. Como na época o acesso a essas tecnologias se restringia a fazendeiros, a elite e a classe média urbana, não muito diferente dos dias atuais, a bicicleta só foi utilizada em Itu por pessoas da classe média, negros e despossuídos (sem terras), depois da abertura da Fábrica São Luiz - uma pequena industria têxtil na cidade - em 1869, com 60 máquinas, entre elas 24 teares que consumiam cerca de 75 mil quilos de “algodão grosso da terra” que eram utilizados para fazer roupas para escravos, agricultores e sacarias para embalar o sal, o café e outros grãos.
Enquanto isso em São Paulo era inaugurado no dia 21 de junho de 1896 o velódromo da Consolação, que era de concreto e arquibancadas de madeira e foi um marco no ciclismo esportivo brasileiro, pois no mesmo ano aconteceu a inclusão do ciclismo como esporte nos Jogos Olímpicos de 1896, e nesse mesmo ano, Antonio Prado Jr. bateu o record sul-americano dos 1.100 m, tornando-se o primeiro recordista brasileiro em provas de ciclismo. Até 1900 o ciclismo era uma das principais atividades esportivas praticada em São Paulo, possuía dois velódromos, um de terra batida e outro de concreto e madeira, e um circo de velocípedes, dois clubes, o Veloce Club Olímpico Paulista e o Clube Atlético Paulistano. A partir dessa data é o futebol que vai dominar, por se tratar de um esporte coletivo e de fácil acesso econômico.
Com a abertura do tráfego pela linha férrea Jundiaí-Itu em 1873, o aumento da produção do café, a construção da Usina Hidroelétrica São Pedro em 1911 na estrada de Cabreúva/SP e a abertura de outra indústria têxtil em 1912, a Companhia de Fiação São Pedro com 150 teares e mais de 200 operários, mais empregos surgiam. No início do século XX, multiplicou-se o numero de teares, fator que exigiu aumento da capacidade do gerador de energia elétrica e a criação da primeira vila operária em 1925 que era composta por cerca de 120 casas, localizadas ao lado da tecelagem. Muitas dessas residências ainda são habitadas.
A crise econô