Utilidade Pública
"Vai, amigo?". Era uma espécie de gafanhoto, daqueles feitos com folha de palmeira trançada na praça ao mesmo tempo em que os cristãos se reuniam dentro da igreja. O sermão havia exortado sobre a fraternidade e os bons costumes. Os fiéis se despediram nas escadarias e partiram para o estacionamento. Dentro do carro, o homem olha em volta, imprimindo não entender que é o "amigo" em questão, e se aponta, mas seu falso estranhamento não é suficiente para afastar o rapaz que confirma e estende o artesanato, sorridente. Ainda com o vidro fechado, do lado de fora ele começa a explicar a motivação, o conceito e a pressa; seus filhos têm fome. O homem olha para a esposa, sentada ao lado, e comenta entre os dentes: "Quem vai querer essa bobagem inútil?". Ela sorri. Então ele aperta o botão, fazendo o vidro descer e, antes que o rapaz termine, agradece justificando que está atrasado. Vira a chave, engata a marcha ré e parte atravessar a cidade até chegar no shopping para dar comida aos macacos.