Publicado: Quarta-feira, 12 de dezembro de 2007
Vai passar ou repetir de ano? - Segunda parte
Discutimos na primeira parte deste texto a postura dos pais durante todo o ano letivo e seu envolvimento nas tarefas escolares de seus filhos, refletindo sobre alguns aspectos do mau desempenho escolar, que pode resultar na reprovação de um aluno.
Discutiremos agora dois outros aspectos:
a) As manobras utilizadas para premiar os sucessos ou punir os insucessos dos filhos;
b) A real importância da reprovação na história da vida do indivíduo.
A negociação é um termo muito importante na criação de regras que possam auxiliar uma família a conseguir consistência na disciplina. Quando o assunto é desempenho escolar, esse termo se torna ainda mais importante.
É muito comum, quando tentamos estimular nossos filhos a estudar, usarmos frases que ouvíamos – e não gostávamos – ditas por nossos próprios pais: “Você não faz nada, só estuda” ou “Ir bem na escola é apenas sua obrigação”.
Este tipo de afirmação, além de ser muito irritante é pouco eficiente, pois desqualifica tanto o ato de estudar, quanto um dos primeiros papéis sociais que o indivíduo desempenha, que é o papel de aluno.
Afirmar que ter um bom desempenho escolar é uma obrigação, também reduz o ato de estudar – que poderia ser uma grande aventura de descoberta - a uma coisa obrigatória e chata.
O que fazer?
Em primeiro lugar, entender que o papel de aluno é uma coisa séria para nossos filhos, e que, portanto, deve ser respeitada. Classificar um indivíduo como “mau aluno”, provoca nele uma sensação de frustração e impotência equivalente àquela causada a um adulto quando é demitido sob a alegação ser um “mau profissional”.
Devemos aprender a valorizar bastante os acertos ao invés de criticar muito os erros. Somente desta forma é que qualquer aluno em dificuldade conseguirá algum prazer em estudar.
Imaginemos um aluno que tem recebido notas 2,0 ou 3,0 em matemática. Ele realiza um grande esforço e consegue tirar um 5,0. Se chegar em casa com esta nota e receber um elogio, se sentirá estimulado a continuar estudando, pois seu esforço foi reconhecido e resultou em um benefício. Se receber uma bronca, aprenderá que não adianta se esforçar, pois receberá uma bronca de qualquer jeito...
Outra atitude importante é ensinarmos que nossos filhos são capazes. Uma criança que teve seus sucessos reconhecidos ao longo da vida cresce com a crença de que é capaz e frente a um novo desafio, se sentirá estimulada a tentar resolvê-lo. Já uma criança que cresce ouvindo que é “burra”, frente àquele mesmo desafio, se sentirá intimidada e desencorajada, pois se reconhece como incapaz.
Voltando à negociação, dentro das normas que a família criar, existe a possibilidade de discutirmos a premiação pelo cumprimento das regras e o castigo (preferencialmente a privação de algo que a criança gosta) pelo não cumprimento das mesmas. Havendo uma combinação clara e explícita de como funcionará cada regra, e se elas forem efetivamente vigiadas e respeitadas – tanto pelos filhos quanto pelos pais – teremos um grande instrumento de auxílio na educação de nossos filhos e na harmonia da família.
Isto é diferente da chantagem, em que se oferece algo em troca do sucesso. A chantagem não educa, e ainda ensina aos filhos que nesta relação pais e filhos existe espaço para chantagem. Assim que puderem ou precisarem, eles começarão a chantagear também.
Tudo isso que foi dito até aqui, vale como um projeto de vida escolar para o ano todo, porém não salva ninguém da reprovação nos últimos dias de aula.
Devemos refletir então com seriedade o significado da reprovação na história desta família. É certo que “repetir de ano” representa algum tipo de prejuízo financeiro (o investimento em escola daquele ano foi perdido), e atraso no tempo. Entretanto, devemos pensar que de um ponto de vista educacional, é melhor uma reprovação num momento certo, em que o aluno não tem condições de prosseguir, que uma aprovação “forçosa ou forçada”, expondo aquele aluno ao prosseguimento de um curso, no qual, o conhecimento necessário para prosseguir ainda não é suficiente.
Estaremos “empurrando” a dificuldade por mais um ano. Os estudos, que até este momento não estavam fáceis, ficarão mais difíceis... A frustração aumenta, a pressão aumenta e os resultados ao longo do tempo serão ou uma reprovação futura, ou um desinteresse progressivo pelo papel de aluno. Além disso, com essa postura, ensinamos aos nossos filhos, que caso eles se envolvam com problemas sérios, nós “sempre daremos um jeito”. Será que vale a pena?
Vejo muitos pais aflitos com esta “perda” de um ano...
Pensemos em nossa vida de adultos. Será que um ano a mais ou a menos é assim tão importante mesmo? Existe muita diferença em entrar na faculdade aos 18 ou aos 19 anos? Há muita diferença em procurar um emprego com 25 ou com 26 anos?
Entendo que há um aprendizado em se esforçar para conseguir um determinado objetivo.
Entretanto, há outro aprendizado que pode ser obtido com a reprovação: a importância da disciplina, da dedicação e a responsabilização pelos próprios atos.
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