Vale a pena? Vale
Rui Barbosa, tribuno por excelência, lamentou em dado momento que as falcatruas prosperam e que ineptos conseguem triunfar, a ponto de que o homem desanime e sinta pejo de mostrar-se honesto.
Não valeria a pena, seria talvez o conteúdo da mensagem.
Mas não.
O enunciado lapidar de Rui é de que mesmo a custo de muito empenho, cumpre a cada um fazer-se acima de qualquer suspeita.
Tampouco porém, uma vez considerada a fragilidade humana, se exigiria uma conduta irrestrita e irrepreensível, completamente a salvo de erros, cochilos, tropeços e enganos, que perfeito a toda prova só Ele o foi. Saiba-se situar o que seja na média uma pessoa de bem.
Coubesse no plano de todo homem, conscientemente, optar por uma conduta austera e íntegra, desapareceriam os mil cuidados que ele toma, ao erigir cercas, muros, alarmes e que tais.
O brado, pois fulcro da mensagem, residiria exatamente nessa postura de acreditar em si e, se percalços houver, reconhecer a culpa e levantar-se de novo, com humildade, inclusive sob reparo de algum dano a outrem, mesmo que leve.
Por isso mesmo, de outra feita, pega muito mal a maledicência afoita, como se os adeptos dela fossem inatacáveis.
E que seja assim mesmo, insistir pela idoneidade, sem o lamento de que a perseguir esse intento, situe-se você num elenco de minorias. Não é fácil pousar de bobo, podem os irreverentes retrucar. Não lhes dê ouvido.
Encaminhe-se o fio da conversa, em resumo, para uma conclusão, quimérica embora, a de que você se constituiria por hipótese no último dos mortais a prezar a condição de honesto, bom, bem intencionado, qualidades que absolutamente implicam em ser necessariamente um ingênuo.
O último dos idealistas, você!
Ainda assim, orgulhe-se de sua escolha.
E como estaria simbolicamente sozinho e por isso na falta de que outro alguém o faça, aplique-se por justiça sobre si mesmo a faixa legítima de cidadão consciente e realizado.
Vale a pena.
Ah... O que?
Está você a ouvir ruidosas gargalhadas, em meio a apupos maldosos?
Não se abale.
No fundo, talvez, o invejem.
Afinal de contas, você é o herói.
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