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Publicado: Quarta-feira, 30 de maio de 2007

Vamos bailar?

Era o primeiro sábado do último mês do ano. Cheguei um pouco mais cedo que de costume, quando ainda havia poucas pessoas no salão ambiente. Indicada a mesa, acomodei-me tranqüilamente no local que me fora reservado. Logo em seguida, o garçom trouxe um balde com gelo, alguns refrigerantes solicitados e também as torradas acompanhadas de um patê de azeitonas. Coloquei quatro pedras de gelo no copo, juntamente com três dedos de uísque rótulo preto. Copos ao ar: à saúde e à vida!
 
Nos trinta minutos seguintes, o espaço foi ficando ligeiramente mais denso: mais pessoas por metro cúbico. Chega um, chega outro, às vezes dois ou três casais que vieram juntos... Os freqüentadores são invariavelmente os mesmos, mudam apenas alguns convidados daqueles que são os mais assíduos. Observo-os ingressando no recinto e pelas fisionomias noto que todos já me são bem familiares, apesar de não saber pronunciar a maioria dos nomes. Mas isso é um pequeno detalhe, mera questão de tempo. É como se nos conhecêssemos há mais de uma década.
 
A rotina é mais ou mesmo a mesma dos demais primeiros sábados dos outros onze meses do ano. Em relação ao mês anterior, os casais anfitriões que se responsabilizam pela entrada foram trocados; uma nova dupla foi sorteada no encontro anterior. Apesar de não haver qualquer determinação nesse sentido, os lugares são mais ou menos cativos; uma ou outra alteração ocorre quando o número de convidados previstos é ligeiramente maior que o de costume.
 
Enquanto as pessoas vão se acomodando em seus lugares, os músicos vão encerrando seus preparativos para o início da noite. Alguns acordes são ouvidos, os microfones são igualmente testados e os últimos retoques nas roupas são providenciados.
 
Inicia-se a noite com uma seleção de boleros: as mesas ficam vazias e todos se dirigem à pista. Logo em seguida vêm os pagodes, depois os forrós, os sambas, os chá-chá-chás, mambos... E aos sons dos diferentes ritmos, também diferentes estilos vão sendo mostrados. Uns executam passos combinados e ajustados ao longo de décadas de união, outros explicitam que andam freqüentando algum curso de academia. Os casais circulam felizes e sempre em sentido anti-horário.
 
Depois de algumas seleções, num certo momento da noite, a música é interrompida. O presidente cumprimenta e agradece a todos e também anuncia os aniversariantes do mês. Os que serão festejados se dirigem à frente, os casais na berlinda trocam beijos e, depois do inevitável parabéns, dançam a valsa cercados pelos demais que os brindam com brincadeiras juvenis.
 
Um jantar é servido na metade temporal da festa. Os bailarinos deixam a pista por instantes e se concentram então na grande ágape. Por um tempo, o barulho dos talheres disputa o ambiente com os ruídos das conversas entre amigos.
 
As horas vão passando lentamente, em contraponto com os ritmos apresentados. Os anos sessenta são lembrados anunciando o fim da noitada. Algumas performances são feitas em bloco e então são mostrados passos que marcaram épocas de juventude. Há uma vontade de que os ponteiros dos relógios se movimentassem ao contrário ou que, pelo menos, se movessem mais lentamente. Próximo das duas, o salão começa a ficar vazio novamente e os últimos festeiros se despedem.
 
Os problemas e os assuntos de trabalho ficaram esquecidos por um tempo. Todos retornam mais jovens para suas casas. Nas mentes, ainda ressoa a voz adocicada de Luis Miguel: Dicen que la distancia es el olvido / Pero yo no concibo esa razón / Porque yo seguiré siendo el cautivo / De los caprichos de tu corazón / Supiste esclarecer mis pensamientos / Me diste la verdad que yo soñé / Ahuyentaste de mi los sufrimientos / En la primera noche que te amé / Hoy mi playa se viste de amargura / Porque tu barca tiene que partir / A cruzar otros mares de locura / Cuida que no naufrague en tu vivir / Cuando la luz del sol se este apagando / Y te sientas cansada de vagar / Piensa que yo por ti estaré esperando / Hasta que tu decidas regresar.
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