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Publicado: Domingo, 3 de dezembro de 2006

Você, que não me perdoa...

Você, que não me perdoa...

           Hoje a minha conversa é com você. Sim, é com você mesmo. Você que não me perdoa. Você que ainda não se esqueceu daquela falta que, mesmo sem querer, acabei por cometer contra a sua pessoa. São tantos os meus defeitos e às vezes penso que erro mais do que os outros. Porém, já aprendi que errar é a coisa mais fácil nesta vida. Difícil mesmo é reconhecer e superar os erros. Pois estou aqui, humildemente reconhecendo que errei. Desejando colocar uma pedra sobre tudo isso, afim de que possa pensar ter finalmente superado mais uma falha minha.

Ser ofendido também é muito fácil. Não se precisa ir muito longe. Muitas vezes somos agredidos intimamente por aqueles que julgamos mais próximos de nós. São coisas da vida. Os que estão mais perto podem mesmo nos atingir mais, por causa da proximidade. Por outro lado, também sofrem conosco quando é a nossa vez de sermos os responsáveis pela ofensa. Difícil mesmo é esquecer a dor de ser ofendido, seja isso justo ou não. Mais difícil ainda é perdoar aquele que nos ofendeu.

Perdão. O que significa essa palavra? Era para ser uma via de mão dupla, mas nós insistimos que tenha apenas um sentido. O perdão nos serve na hora de o pedirmos a Deus. Nos serve também quando imploramos do Criador a remissão dos nossos pecados. E fica por aí. Na prática, quem perdoa seus semelhantes? Quem engole o orgulho e perdoa “setenta vezes sete” como Jesus pediu? Salvo raras e felizes exceções, o perdão transformou-se numa palavra positiva e mal vivida. Fala-se muito nele, vive-se pouco ele.

Você que ainda não me perdoou (atente ao “ainda”... sou muito esperançoso), preste atenção. Não se lembra do mandamento novo deixado por Cristo: “Amai-vos uns aos outros como eu vos amei”?. E por que não dizer também: “Perdoai-vos uns aos outros como eu vos perdoei?”. De fato Jesus também nos ensinou muito sobre o perdão, tanto em gestos como em palavras. Você aí, que não me perdoa. É, você mesmo. Não sabe que se não me perdoar, também não será perdoado? Não sabe que com a régua que me medir será medido também?

Você que não me perdoa, escondido por trás de uma cortina de orgulho disfarçado de “princípios”. Não enxerga o exemplo dado por Cristo lá no alto da cruz? Quando no calvário o Filho de Deus olhou para seus algozes e disse: “Pai, perdoa-lhes!”. Eles não sabiam o que estavam fazendo. Jesus sabia o que estava fazendo. Estava fazendo o certo: perdoando. E você, o que faz? Você perdoa o próximo, que é imperfeito e sujeito a erros? Você perdoa a mim, que falho tanto? Em qual categoria nos encaixamos: sabemos ou não o que estamos fazendo?

Você, que não me perdoa. Está na hora de acabar com isso. Tanto tempo sem conversar, fingindo que não nos enxergamos. Caso isso continue, estaremos vivendo nossa religião pela metade. Um cristão que não supera mágoas, que não perdoa e busca a reconciliação, está fora de contexto. Queremos ser o que devemos ser ou estamos sendo o que queremos ser?

Este é um tempo de reconciliação. É tempo de contemplar a mensagem divina do perdão e da amizade. Para que continuar alimentando mágoas e rancores? Para que continuar fazendo o jogo do inimigo, que deseja ver a humanidade se destruindo até o último dos homens? Mais vale fazer o que o Senhor nos pede. E seguindo os conselhos de Deus, seremos todos reconhecidos como filhos do mesmo Pai. E dirão de nós com espanto: “Vejam como eles se amam!”.

Amém.

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