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Publicado: Sábado, 27 de outubro de 2007

Voltando de Férias

Foram apenas alguns dias, mas deu para sair da rotina. Isso é muito bom, porque voltamos a visualizar as coisas com mais naturalidade e tranqüilidade. Aliás, é o que vem faltando nas últimas décadas, de vertiginoso progresso, tornando o homem contemporâneo criatura atormentada pela ausência de serenidade, indispensável à vida plácida e feliz.
 
Retornando aos afazeres cotidianos, estou procurando conservar os fluídos eufóricos emanados do descanso salutar, direcionando as atividades com extrema cautela, relembrando a máxima de um filósofo antigo, que afirmou viver ser uma arte.
 
Sou interrompido por telefonema completamente desagradável, solicitando dados, para registro de escritura, enervantes, de pura burocracia e inoportunos, razão pela qual continuo achando que o mundo vai mesmo mal e a vida continuará nos seus encontros e desencontros “ad multos anos”.
 
Teremos de colocar de lado todos os dissabores que pororocam com freqüência, porque boa parte da humanidade continua perversa e ignorante, fazendo questão de não se aperfeiçoar. A perfeição é a meta, conforme a mensagem evangélica, e é evidente, que marginalizada pela incultura, desinteresse, perversidade, impede convivência pacífica, feliz.
 
Temos de procurar oásis onde floresçam as virtudes e aí, na salubridade das fontes e da brisa, entretermo-nos em colóquios enobrecedores de onde, seguramente, sairemos fortalecidos para prosseguir a jornada terrestre. É interessante notar que, na provecta idade, apreciamos abordar temas metafísicos, impregnados de misticidade, ao invés de nos determos em assuntos políticos, mundanos, esportivos.
 
A experiência de vida, talvez, nos tenha conduzido a essa “prioridade” mental, sobretudo porque, o carrossel de ilusões que acompanha todo o mortal tenha nos fatigado. Aliás, até a política criou o movimento “cansei”, demonstrando que outras esferas da vivencia social também se exauriram na procura da felicidade (para não usar o “chavão” melhor qualidade de vida).
 
Relembrando as exigências burocráticas que nos torturam, leio no Caderno 2 do Estadão (19/9/07) que a famosa atriz e produtora cinematográfica Lucélia Santos (que se tornou budista), teve enormes entraves burocráticos e de censura, na China, para rodar seu filme, “Um amor do outro lado do mundo”: autorizações de inúmeras autoridades, sendo o enredo vistoriado e censurado, alterando-se até cena de agressão com arma de fogo, por agressão com arma branca.
 

Assim, nos conformamos com as medíocres exigências que nos são impostas e nos prontificamos a cumpri-las sem nos aborrecer, mormente porque, retornando de alguns apoucados dias de férias, sentimo-nos imunizados e fortalecidos para a labuta diária.

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