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Publicado: Sexta-feira, 6 de maio de 2016

Xepa

Xepa
Escultura em Portland, Oregon

​"Moça bonita não paga... Mas também não leva! E aí, coisa linda, vai alface pra almoçar hoje? Convida que eu cozinho, hein!". Ela não conseguiu esconder o sorriso nos olhos. O peixeiro notou, agachou atrás da pilha de tilápias e embrulhou no jornal qualquer coisa que não se deu pra ver. Quando se voltou para o balcão ela o aguardava com um selinho úmido, depois foi embora. No começo da rua alguns feirantes já desmontavam suas bancas e a equipe de limpeza da prefeitura aguardava escorada no poste, gargalhando. Ele demandou ao seu ajudante a finalização dos trabalhos, pegou o pacote e saiu mais cedo. Passou no Bar da Selma, tomou meia dúzia de cervejas ouvindo as piadinhas de sempre sobre seu cheiro, depois rumou para casa. Na ponta dos pés, entrou sem fazer barulho e viu, pela fresta da porta, sua mulher com o verdureiro. Foi até a cozinha, acendeu o fogo para uma frigideira velha e sentou à mesa. Enrolado nas páginas policiais, um revólver de baixo calibre. Jantou duas balas de chumbo.

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