Heterocromia: a beleza dos olhos bicolor
A anomalia genética é rara nos seres humanos.
Tamara Horn
Por Tamara Horn
David Bowie, Tim Mcllrath, Kate Bosworth, Jane Seymour, Wentworth Earl Miller, Mila Kunis, Christopher Walken, Dan Aykroyd e Kiefer Sutherland. O que estas personalidades têm em comum? Todas são portadoras da heterocromia, uma anomalia genética na qual o indivíduo possui um olho de cada cor.
Você pode até achar estranho, mas não é tão anormal assim. Para entender a heterocromia, é preciso entender o funcionamento da pigmentação da íris, fator que determina a cor dos olhos. Uma íris que é pigmentada com bastante melanina seria de tons mais escuros (variações de castanho), no outro extremo se encontram as nuances de azul.
“A doença é rara nos seres humanos e isso se deve a uma alteração no gene EYCL3 no cromossomo 15, que indica a quantidade de melanina que o olho apresentará (muita melanina gera a cor marrom, e pouca gera o azul). Já o gene EYCL1, que indica a quantidade de pigmentos de gordura, é responsável pela nuance de tom azul ou verde”, explica o oftalmologista Luiz Saverio Plastino Junior.
Tipos de Heterocromia
A anomalia se divide em completa, central e sectorial:
Heterocromia completa: cada olho possui uma pigmentação distinta. (exemplo: um é azul e o outro é castanho).
Heterocromia central: olhos apresentam várias cores (como um centro castanho e o fim da íris azulado).
Heterocromia sectorial: uma cor diferente da “predominante” aparece em formas de “mancha” na íris. Ou seja, no mesmo olho são apresentados diferentes pigmentações (exemplo: um olho azul possui tons amarronzados).
Segundo dados divulgados no site hypescience.com - portal que contém notícias relevantes e curiosas ligadas preponderantemente aos temas ciência, tecnologia e saúde -, a doença está presente em 11 a cada mil pessoas. O estudante de engenharia florestal Gustavo Bortolotti faz parte deste percentual. O jovem percebeu a diferenciação de cores quando criança, aos cinco anos de idade. "Eu sou o único na família. Alguns acham isso estranho, mas eu acho legal", brinca o estudante.
A heterocromia também pode ser ocasionada por lesões ou derrames, que podem vir a causar a modificação da quantidade de melanina na retina, revela o oftalmologista. O músico britânico David Bowie se encaixa neste quadro. O roqueiro adquiriu a anomalia por causa de uma briga na adolescência, que lhe tirou parcialmente a visão e a percepção das cores de um dos olhos.
Há também a causa da Heterocromia de Fuchs, que pode tanto pigmentar como despigmentar o olho acometido. A síndrome de Waardenburg também tem suas ligações com a anomalia, e está associada com surdez. “Cabe lembrar que uma heterocromia que surge na criança mais velha ou no adulto, deve ser investigada sempre”, pontua o especialista. E alerta: “quando o paciente vem com a heterocromia, é legal fazer a oftalmoscopia (exame de fundo de olho que avalia as condições do humor vítreo (líquido do olho), da retina, dos vasos sanguíneos (veias e artérias retineanas) e do nervo óptico (responsável por levar os estímulos visuais, já convertidos em sinais elétricos, ao cérebro) e também medir a pressão intraocular. Em alguns casos, a pessoa pode ter feito uma cirurgia e pode haver uma dispersão pigmentar da íris, ocasionando o aumento da pressão do olho”.
Vale lembrar que a heterocromia nem sempre necessita de um acompanhamento médico. “Ás vezes, as pessoas olham para o indivíduo portador da anomalia e acreditam que ele tem uma doença ocular. E em geral, não é preciso um tratamento específico (ao se tratar da heterocromia primária)”, diz o doutor.
Gustavo diz que vai ao oftalmologista, pelo menos, uma vez ao ano. O estudante revela que suas idas ao especialista se dão pelo motivo de astigmatismo (deficiência visual causada pelo formato irregular da córnea ou do cristalino formando uma imagem em vários focos que se encontram em eixos diferenciados) e não pelo fato de ser portador da heterocromia. Ele também revela que acha interessante e legal os olhares que as pessoas fazem ao notar a diferença.
A heterocromia também atinge os animais, numa proporção ainda maior que nos seres humanos. Apesar de ainda não ser tão comum, a anomalia não assusta e segundo Gustavo, não gera preconceitos. "Eu nunca passei por constrangimento, mas sim por situações engraçadas", finaliza.