Cinema

Publicado: Domingo, 27 de junho de 2010

House encerrou sua sexta temporada apostando na inteligência emocional

Assista ao trailer do episódio.

Crédito: Divulgação House encerrou sua sexta temporada apostando na inteligência emocional
Cena do final da quarta temporada de House: A comovente despedida de Amber e Wilson

Por Leandro Sarubo

Hugh Laurie. 40 anos. Pai adotivo do ratinho branco Stuart Little, dublado por Michael J. Fox.

Hugh Laurie. 51 anos. Pai do melhor personagem da década que consolidou o desenvolvimento psicológico nos dramas.

Laurie, natural de Oxford, é o exemplo perfeito daquilo que chamamos de ator. Ele mais que personifica personagens. Ele os cria. Molda. Desenha. É o escultor das artes cênicas. Com versatilidade, delicadeza, sentimento aguçado. 

Na sexta temporada de House, cujo último capítulo foi programado para o dia 24 de junho, no Universal Channel, fica bem claro no mundo dos hospitais de mentirinha quem sabe cativar para valer.

Quando lançado, em 2005, o seriado médico trouxe um especialista em doenças infecciosas ainda pouco maturado pelo vício do Vicodin, remédio que usa para controlar as dores de sua perna, cujo músculo da coxa inexiste – ele sofreu um infarto na perna, anos antes da história ter seu início.

Com o tempo, aprendemos seus mantras. Realistas, perturbadores, coerentes. Aprendemos que todo mundo mente, que ninguém muda, que perserverança não é igual a merecimento. Notamos um agnosticismo (para alguns, ateísmo) ácido, direito, livre de medos. Olhamos sua equipe. Sua relação controversa com os pacientes – fator que nunca mudou nestes anos.

No reinado supostamente sem amor de House, conhecemos seus sentimentos, pouco a pouco, ano a ano. A medida que o personagem evoluía em suas verdades absolutas, arrebatadoras, vimos a melhor analogia sobre a morte já vista em um programa de televisão. Foi no fim do quarto ano, quando acompanhamos a morte de Amber, namorada do melhor amigo do médico ranzinza, o oncologista Wilson.

O divisor de águas da vulnerabilidade emocional de House, tratada mais seriamente na leva de episódios que se encerra, foi exatamente a morte de Amber, indiretamente causada por ele. Se nos três primeiros anos o House da telinha era incorrigivelmente egoísta e corajoso, pois sem coragem não há egoísmo, a breve ruputura com seu melhor amigo, a quem ama verdadeiramente, e o medo de ser sozinho, fizeram o decidido personagem de Hugh Laurie perder o controle no medicamento, tirando a lucidez do médico.

O vício foi tratado no episódio que abriu o sexto ano, em episódio duplo fabuloso, digno de exibição em escolas de roteiristas. House em uma clínica. Frente a frente com um psicólogo. Assumindo que não quer ser infeliz, ao mesmo tempo que atacava aquilo que não aceitava, não acreditava. Demonstrando seus medos, sua vontade de tentar amar. Tentando ser aquilo que, para a tristeza de muitos, nunca será: um ser humano comum.

Quem acompanhou episódio por episódio a retomada da equipe, a recuperação, a aplicação de suas engenhosas (maldosas?) teorias de socialização e o novo medo de ficar solitário – Cuddy namora o detetive que ele mesmo contratou, no quinto ano, para vigiar Wilson, que, por sua vez, voltou a namorar sua primeira esposa - verá no season finale, o início do fim. Porque House está renovado para o sétimo ano. Que deve ser o último. O trailer especialmente produzido pelo detentor dos direitos de exibição da série no país para os internautas pode ser conferido abaixo.

Há quem torça pela recuperação de House, no series finale, gente que certamente apreciará de modo especial o fim da temporada. Por recuperação, aqui, entende-se a conversão ao que convencionou ser sinônimo de felicidade. É uma ideia injusta, pois felicidade é algo muito pessoal. Se não bastasse este argumento, devemos lembrar que seria um desperdício inventar um remédio qualquer para curá-lo e tirar a “semente ruim” do coração do médico. Um desperdício com o roteiro, no caso.

Meu pedido para David Shore no último ano de House é bem simples, e nada tem a ver com um casamento com Cuddy, o surgimento de uma princesa encantada ou, mais bizarro, ele e Wilson assumindo um romance (acreditem, já ouvi fãs pedirem isto).

O que eu quero, sinceramente, é continuar acreditando na linha do tempo que me foi apresentada. Continuar observando os passos da mente interpretada brilhantemente por Laurie. Porque eu sei que existem Houses por aí. E eu sei bem como é dolorido ver a vida com os olhos de um Gregory House. Sem fé. Sem a segurança do ser humano comum. Que é feliz.

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