Megamente

Por Guilherme Martins

Sempre que eu assistia meus filminhos de super-heróis ou até mesmo desenhos, pensava: por que o vilão sempre tem que se dar mal? Em meus devaneios, imaginava o Tom finalmente tendo uma refeição com o Jerry, o Frajola deixando só as penas do Piu-piu na gaiola, o Papa-léguas sendo capturado pelo (pobre coitado) do Coiote, entre outros. Pois parece que a mesma coisa passou pela mente dos roteiristas de Megamente, a nova animação da Dreamworks.

Na trama, duas figuras são despachadas ainda quando bebês para a Terra, porém enquanto o belo e topetudo Metro Man (voz original de Brad Pitt) acaba aterrissando em uma casa enorme, sendo adotado por uma família e cresce querido por todos, o cabeçudo Megamente (voz de Will Ferrell) cai dentro de um presídio e lá aprende que os policiais são maus e que o legal é sair assaltando bancos. Assim, provando que é o ambiente que molda o indivíduo, um se torna o herói de Metro City, enquanto o outro passa seu tempo na prisão imaginando formas de sair dali e acabar com seu rival.

Megamente tem um só foco em sua vida e depois de muitos e muitos planos frustrados, o improvável acontece: ele consegue liquidar o heroi. Mas quando ele atinge o seu objetivo final, o que resta? Partindo da premissa de que por trás de um grande vilão sempre há um grande herói, a vida de Megamente perde o sentido. Então ele parte em busca de um novo ídolo para duelar e voltar à antiga rotina e aos velhos tempos.

Uma palavra para o roteiro: genial! A todo momento é trabalhado esse contraste do bem contra o mal e de como um não poderia existir sem o outro, como os dois se completam. O que comprova algo que está cada vez mais evidenciado nas animações: o prisma adulto, filosófico e profundo. Os diálogos também são finos e inteligentes e algumas sutilezas e odes aos filmes de heróis, como a “homenagem” hilária ao ator Marlon Brando, serão captadas e apreciadas pelo público adulto.

Mas não se enganem, espectadores, pois a diversão certamente está presente no longa e as crianças sairão satisfeitas também. Grande parte da graça da obra está no riquíssimo personagem Megamente e no seu fiel ajudante, o Criado, que arrancam gargalhadas na projeção. O tom inteligente garante sempre boas piadas e divertidas sequências.

Outro ponto a ser salientado é a fantástica trilha sonora do filme, que nos brinda com verdadeiros clássicos do rock, como AC/DC, Ozzy Osbourne, Guns´n Roses e até mesmo o ídolo pop Michael Jackson.

Resumindo, é uma animação que vale a pena ser assistida, seja pela ousadia na desconstrução dos heróis ou pela qualidade tocante. Imperdível!