Roteiro flutuante de Lie To Me desperdiça talento de Tim Roth
Cancelada no 3º ano, série ganhou coleção definitiva.
Camila BertolazziPor Leandro Sarubo
Lie To Me é uma das melhores séries da década.
Você não pôde ver, mas enquanto escrevia a frase acima, meu olho esquerdo piscou abruptamente, cutuquei o nariz duas vezes e eu gargalhei.
Se Dr. Cal Lightman estivesse aqui, eu teria recebido uma bofetada na cara e ouvido várias grosserias. Exatamente o mesmo castigo que deveria ser aplicado nos roteiristas de Lie To Me. Não porque são mentirosos, mas pelo péssimo trabalho executado nesses 3 anos de série, cancelada pela baixa audiência e pelo latente desinteresse da crítica.
Lançada no Fall Season 2008/2009, Lie To Me tinha ótimas referências. A história do especialista em detectar mentiras através das expressões faciais e corporais era empolgante, principalmente porque Tim Roth, aquele mesmo de Pulp Fiction, foi escalado protagonista. A expectativa, no entanto, cessou logo no encerramento da primeira temporada.
A série, que encerrou a primeira leva de episódios com público médio de 11 milhões de telespectadores e arcos simplistas, quase folhetinescos, viu sua audiência desabar 30% no segundo ano, motivando uma drástica mudança estrutural no roteiro.
A profundidade psicóloga dos personagens e tramas, antes trabalhada timidamente, foi engolida integralmente. Lie To Me foi, episódio a episódio, se transformando em um genérico intelectualizado de CSI. Muito pouco para um programa que tem Tim Roth no casting.
O novo direcionamento, planejado para devolver o fôlego da série, resultou em nova baixa nos números. O terceiro ano teve média de 6 milhões de pessoas, número considerado ruim para a FOX americana. Em suma, o público atraído pela proposta inicial ficou ainda mais aborrecido e os fãs de CSI não trocaram de canal. Uma sequência lógica, porém ignorada pelos produtores e executivos.
À Fox, para diminuir o prejuízo, sobrou o investimento na venda de downloads e DVD's entre os fãs "remanescentes" e novos espectadores. O Brasil está entre os países escolhidos para cooperar nessa empreitada. Por aqui, aterrisarão a caixa com os episódios da última temporada e o box com a série completa. 12 discos em embalagem comum, olhos piscando abruptamente, narizes cutucados e um punhado de gargalhadas.