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Publicado: Quarta-feira, 27 de fevereiro de 2008

Mãos que plantam

Crédito: Deborah Dubner Mãos que plantam
Vi mãos de todas as cores, idades e raízes.
O rojão estoura. Todos levam as mãos ao alto, depois ao coração e finalmente ao chão, honrando uma tradição dos índios brasileiros. Instantes depois, milhares de pessoas agacham-se na terra e começam a plantar mudas de árvores, de espécies diversas. Um grupo de cerca de 5.000 pessoas espalhadas por um terreno de 7 hectares plantam vida, na esperança de vê-la germinar, florescer e frutificar.
 
A ousada meta estabelecida pela Prefeitura Municipal de Itu, de plantar 25 mil mudas de árvores em até 60 minutos, parece ter sido alcançada. Mas o mais importante, independente do objetivo de entrar no Livro de Recordes Mundial, é o exemplo que foi passado, de que é possível uma competição saudável e benéfica. Se todas as cidades competirem pelo título com seriedade e envolvimento, quem agradece é o nosso querido planeta.
 
Quem esteve presente certamente se emocionou. As mãos sujas e o coração quente deram provas de que quando há envolvimento, compromisso e muita garra é possível fazer o impossível.
 
Vi jovens, crianças, idosos e gente de todas as idades. Vi pais e filhos plantando juntos, amigos de escola, companheiros de associações. Vi mãos de todas as cores, idades e raízes. Todos em prol de um objetivo único: fazer da nossa cidade um exemplo de respeito e amor à vida e à natureza.
 
O momento foi de celebração. Cada uma das milhares de pessoas que estava no terreno do Quartel – assim como as outras milhares que estavam no outro terreno da região do Pirapitingui – largaram por algumas horas da manhã os seus afazeres. O relógio, a agenda, os e-mails e as obrigações do cotidiano foram deixados de lado, em prol de uma ação coletiva que esverdeou a cidade. Valeu? Tenho convicção de que a resposta é “sim”. Mais uma prova de que o urgente nem sempre é importante. É preciso aprender a abrir as brechas no cotidiano, para realizar ações de valor. É assim que o mundo poderá mudar.
 
Alguns plantaram uma árvore, outros 2, 3 ou 4. Há até quem plantou mais de 10 árvores. Quem terminava antes e era mais experiente, ajudava os novatos e as crianças. E assim a manhã foi sendo, com todo o cuidado que um plantio exige, com toda a alegria que uma atividade assim desperta.
 
Havia muitas pás de material reciclável, feitas com pet por alunos de várias escolas. Nos sacos de lixo, os plásticos e garrafas de água vazias eram recolhidos. O clima era de ajuda, respeito e harmonia, salpicado pela euforia da galera jovem. Tudo muito bem organizado, com ambulância para emergências, orientação e apoio.
 
Fiquei profundamente tocada por esse movimento. Mais uma vez, confirmou-se dentro de mim a crença de que cada um pode fazer uma grande diferença no seu pequeno pedaço. Que bom ter vivido esse momento junto com meus filhos e marido, assim como muitos!
 
Agradeço Itu por oferecer-me esse presente. Um privilégio que todas as cidades deveriam proporcionar aos seus moradores. Fica então o depoimento de uma pessoa-jornalista que teve a sorte de registrar em texto e fotos esse momento único. E a sugestão de inspiração para as tantas outras cidades desse Brasil afora...
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