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Publicado: Sábado, 7 de março de 2009

A Morte da Inocência

A Morte da Inocência
Sou católica. Fui batizada aos cinco meses e depois que cresci um pouco fiz durante dois anos a Catequese de Primeira Eucaristia, enfim a Primeira Comunhão, seguida dos dois anos de Perseverança e depois o curso do Crisma, sendo crismada no fim de 2007. Acompanho os acontecimentos católicos, comungo o corpo e o sangue de Jesus Cristo, frequento as missas, escrevo para o Blog Informativo da minha Paróquia... Mas sou absolutamente obrigada por meus princípios – e entendam que não é justo, nem aconselhável, agir em desacordo com a própria consciência - a discordar da afirmação do Arcebispo D. José Cardoso Sobrinho em relação ao aborto dos gêmeos gerados numa menina de apenas nove anos por seu padrasto: "esse padrasto cometeu um pecado gravíssimo. Agora, mais grave do que isso, sabe o que é? O aborto, eliminar uma vida inocente". Só não entendi, quando li essa publicação, onde fica a inocência dessa criança, violentada desde os seis anos por alguém que deveria se comportar como pai, já que sua vida também foi colocada em risco, uma vez que – por Deus – essa menina não tem estrutura física para aguentar o peso de uma criança, quem dirá o de duas, que provavelmente não sobreviveriam, como afirmou o Ministro da Saúde José Gomes Temporão: “trata-se de uma criança e, do ponto de vista biológico, não acredito que ela tivesse condições de levar a termo essa gestação de gêmeos”.
 
Fiquei abismada, primeiramente, com o fato em si. Todos ficaram, inclusive (e talvez principalmente) o Arcebispo, assim como padres, bispos, o Papa, Deus. Óbvio. Quem sinceramente conseguir não se importar com uma notícia horrível como essa (que infelizmente não é a primeira e tampouco será a última) pode se entregar às autoridades, pois é tão criminoso quanto o que o cometeu. Depois do choque veio uma onda de revolta. Pela atitude do padrasto, pela resignação da sociedade perante absurdos como esse e pelas críticas católicas aos médicos que realizaram o aborto e à família da garotinha, que apoiaram.
 
A questão aqui, ao meu ver, não se baseia simplesmente no apoio ou repulsa ao aborto em si, mas na situação em que nossas comunidades se encontram social, política, econômica, educacional e espiritualmente. É um caos. Às vezes tento entender o que se passa na cabeça de uma pessoa que age dessa maneira. Será que é prazer? Será que isso a faz feliz? É maldade? Só por fazer mal a outra criatura? É loucura?...
 
Estupro é crime. Aborto é crime. Violência contra a mulher é crime. Violência contra a criança é crime... Porém, aborto é um crime pior do que o estupro. Mas por quê? Qual o método de avaliação utilizado para se classificar um pecado? O que faz um pecado ser maior ou menor que outro, se ambos destroem vidas, corpos, mentes...?!
 
Não venho, com este, criticar os conceitos da doutrina Católica, entendam, mas sim o mundo, que virou de cabeça para baixo de uns tempos para cá, e as pessoas, que perderam o conceito de respeito, dignidade, honra, justiça, sensibilidade, amor. Não foi Jesus que disse para que amássemos os outros como a nós mesmos?!
 
Na semana do Dia Internacional da Mulher é comum que nos envaideçam com elogios e agradecimentos e nós, ao oposto, lembrarmos o mundo dos nossos males, das pedras que insistem em manter-se em nosso caminho, difíceis, atreladas a terra, que ainda não conseguimos chutar para longe. Lembramos de nossa história. Do passado, daquelas que sofreram e lutaram pelos interesses das mulheres, tão menosprezadas durante a história, com garra, força, graça e fé.
 
E fica, ainda não sanado, o desejo da mudança. Do dia em que não se ouça mais falar em meninas violentadas, em mães de filhos indesejados, em vítimas de estupros, em mulheres que apanham, que sofrem... Fica o desejo árduo do dia em que, na prática, os homens dêem às mulheres o respeito que merecem, com toda a dignidade que puderem carregar, para que, assim, possam também se dar ao respeito e querer, acima de tudo, que se cumpram os deveres para com elas, e que recebam tudo o que lhes é de direito, principalmente amor.
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