Publicado: Quarta-feira, 21 de novembro de 2007
Entrevista com Dalton Fonseca Junior
Lilian SartórioDalton P. Fonseca Junior é Engenheiro Agrônomo Sanitarista e Consultor Técnico Estadual do Programa Nacional de Controle do Dengue, do Ministério da Saúde.
Itu.com.br – Você vê algum progresso na luta contra a Dengue com todos os alertas e campanhas feitas pela mídia e escolas?
Dalton - Sim, são dois grupos de público diferentes que você acaba atingindo.
Itu.com.br – Você vê algum progresso na luta contra a Dengue com todos os alertas e campanhas feitas pela mídia e escolas?
Dalton - Sim, são dois grupos de público diferentes que você acaba atingindo.
Com relação à mídia, você atinge a população que já vive o problema da doença e já tem uma cultura enraizada no seu cotidiano de vida. Quanto a manter vasos com água, material de reciclagem e inservíveis jogados no quintal, entre outros cuidados, é difícil você fazer essa pessoa mudar de hábito da noite para o dia, por isso tem que manter sempre o assunto em pauta na mídia para alertá-lo.
Quanto às escolas, os principais atingidos são as crianças e os jovens, sendo formados com uma nova postura e costumes, tanto no nível cultural de se evitar os criadouros, como em relação à cultura ambiental diferenciada a que fomos submetidos no passado.
Itu.com.br – Apesar das campanhas, muitas vezes não é possível fugir de uma picada do mosquito do Dengue. Nesse caso, como a pessoa deve proceder?
Dalton - As pessoas devem fazer sempre vistorias em suas casas para evitar recipientes jogados nos quintais e/ou dentro de casa que acumulem água e possam ser criadouros do mosquito. Outros dois pontos importantes são:
- Sempre que as pessoas encontrarem casas ou terrenos com muitos criadouros ou com entulhos devem comunicar a Prefeitura para que seja feita a limpeza dos mesmos, pois com certeza esses lugares também serão importantes na produção de mosquitos
- Quando sentirem os primeiros sintomas (febre alta, dores no corpo/articulações, dores atrás dos olhos, dor de cabeça, manchas avermelhadas pelo corpo) devem imediatamente procurar o serviço médico e conversar com o médico sobre a possibilidade de ser dengue.
Itu.com.br – Quais são as maiores dúvidas de pacientes infectados pelo Dengue?
Dalton - A maior dúvida é confundir os sintomas da Dengue com os da gripe, pois as duas são viroses e têm os sintomas parecidos. Portanto, assim que iniciarem os sintomas e a pessoa não se sentir bem, deve procurar o médico alertando-o para a dengue (como citado acima).
Outra dúvida é com relação à Dengue Clássica e Dengue Hemorrágica. As pessoas acham que pegam Dengue Hemorrágica, mas ela é uma evolução mais grave da Dengue Clássica, principalmente devido a dois fatores: o não diagnóstico precoce e acompanhamento médico ou a infecção por mais de 1 sorotipo da dengue (lembre sempre que são 4 os sorotipos da dengue e em São Paulo e no Brasil circulam os tipos 1, 2 e 3)
Itu.com.br – Você acha que as campanhas poderiam ser feitas de outra forma para se atingir um número maior de pessoas? Como poderia ser?
Dalton - Toda campanha de mobilização da população tem altos custos, principalmente quando se trata da mudança de alguns hábitos que a população já tem incorporados à sua vida. Mas acredito que deve-se manter principalmente as ações com os escolares para a uma formação ambiental diferenciada e participativa dos mesmos.
Outra ação seria criar atividades com a própria população de maneira mais participativa, pois eles vivenciando conseguem assimilar melhor as idéias, enxergar os problemas e criar soluções.
Itu.com.br - Como a questão do Dengue afeta/interfere na rotina das pessoas que trabalham direta ou indiretamente com isso?
Dalton - Em alguns momentos uma sensação estranha, sensação de impotência, porque você se dedica, trabalha, mobiliza as pessoas, realiza ações de eliminação dos criadouros, exames e vigilância médica e mesmo assim a doença continua aí, cada vez atingindo mais pessoas.
Isso mostra o quanto é complexo trabalhar com dengue, porque nos atuamos nos 3 vértices do tripé da pirâmide: o vírus, o mosquito e o homem. E cada um tem sua complexidade e especificidade no meio ambiente (ação, hábitos, dispersão, desenvolvimento) dificultando assim o monitoramento e controle.
Itu.com.br – Qual o seu recado para os nossos leitores?
Dalton - Acho interessante sempre destacar a questão de que o próprio morador pode resolver o problema do mosquito na sua casa, eliminando os criadouros com água.
E outro ponto importante é a questão de que, ao menor sintoma (citado acima) a pessoa deve procurar o médico. Depois disso, é muito importante que o caso seja notificado à Prefeitura, para que sejam feitas ações de combate ao mosquito.
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