Publicado: Domingo, 6 de janeiro de 2008
São como os castelos europeus
Deborah Dubner(Estadão / Caderno Cidades / pág. C3 / 06 de janeiro de 2008)
Fazendas erguidas entre fim do século 18 e início do 20 passaram por todos os ciclos econômicos paulistas
José Maria Tomazela
O presidente da Associação Pró-Casa do Pinhal, Francisco de Sá Neto, compara o roteiro das fazendas históricas paulistas ao de castelos europeus. “São construções únicas e carregadas de história, como os castelos.” Não por acaso já atraem turistas estrangeiros. “Europeus e americanos ficam encantados com o que a gente oferece.”
Sá Neto lembra que a história de São Paulo pode ser contada a partir dessas construções, erguidas entre o fim do século 18 e início do 20. “As primeiras fazendas pertenceram aos bandeirantes, no período inicial da colonização.” Em seguida, vieram os ciclos econômicos do café e da cana-de-açúcar e as instalações foram moldadas para essas atividades.
Na Fazenda Capuava, em Itu, por exemplo, a casa-sede tem paredes de taipa socadas pelos escravos. A senzala onde os negros eram recolhidos no século 19 foi transformada em museu. O grilhão usado para aprisionar indóceis, a roda d’água que movimentava o engenho de cana e equipamentos da tulha que mais tarde armazenou o café são parte do acervo. Em período mais recente, a fazenda voltou-se à pecuária. Preservada, escapou da recente expansão da cana no interior. Outras, porém, não tiveram a mesma sorte.
“Houve casos em que se abriu uma vala e o casarão foi empurrado com máquinas para o buraco”, denuncia o presidente da Associação das Fazendas Históricas, João Pacheco, lembrando que, abandonadas, outras se deterioraram até ruir. Para ele, cada baixa é uma lacuna na história paulista. “Toda nossa cultura está ligada a essas propriedades.”
Bandeirantes que desbravaram o interior e fundaram cidades como Itu, Sorocaba e Santana de Parnaíba usaram o dinheiro do ouro das minas de Cuiabá para comprar terras. Alguns montaram engenhos de cana. As sedes das fazendas Rosário, Capoava e Pau D’Alho, em Itu, são casas bandeirantistas. O advento do café iniciou novo ciclo, mas com as mesmas famílias. Os donos eram pessoas ilustres, com títulos de marquês, conde e barão.
Antonio Carlos de Arruda Botelho, Conde de Pinhal e dono da fazenda de mesmo nome, foi quem construiu a Estrada de Ferro de Rio Claro, em 1880, depois incorporada pela Companhia Paulista. A fazenda está com a família há oito gerações.
A Santa Gertrudes, fundada em 1854 pelo Barão de São João de Rio Claro, foi uma das primeiras a substituir mão-de-obra escrava pela de italianos e chegou a ter 300 casas de colonos. Para escoar a produção, o segundo dono - Marquês de Três Rios - levou os trilhos da Companhia Paulista para dentro da propriedade. “Muitos dos barões de café enriqueceram e construíram belas casas em Campinas, Itu, Sorocaba e na Avenida Paulista, em São Paulo”, conta Pacheco. A maior parte das residências urbanas foi demolida para construção de prédios. “O que se preservou está na zona rural.”
NOVO CICLO
As fazendas também têm forte relação com a industrialização paulista. Muitos fazendeiros bancaram fábricas de tecido e estradas de ferro. E a expansão industrial só foi possível com a mão-de-obra européia, trazida para trabalhar no café. “A segunda geração dos imigrantes foi para as fábricas e abriu caminho ao enriquecimento das novas gerações. Agora, com o turismo, inicia-se novo ciclo.
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