Publicado: Terça-feira, 15 de janeiro de 2008
Depoimento do jornalista Salathiel de Souza
Lilian SartórioNuma cidade que preza tanto a própria história, não há como desconsiderar a importância dos 90 anos do Regimento Deodoro. Em nove décadas, a instituição do Exército em nosso meio soube preservar seus valores e enriquecer a nossa sociedade com eles.
Muitos dos que residem em Itu recordam com carinho pessoas que por ali passaram, nos mais variados níveis de comando. Muitos de nossos parentes e amigos também lembram do período em que serviram ao país através do Exército, nos anos da mais tenra juventude. Por outro lado, muitos comandantes e demais patentes que passaram por Itu enquanto servidores da Pátria, falam com carinho sobre o tempo que estiveram em solo ituano.
Creio que as Forças Armadas, e mais particularmente o Exército que é presente em nossa cidade, contribuem em muito para a sociedade. E nem tanto por sua belicosidade, já que o Brasil felizmente é um país pacífico e com ojeriza a conflitos armados, empenhando-se na prática da diplomacia. A contribuição do Exército vem com sua lealdade aos deveres patrióticos, com seu empenho na defesa do nosso País e de nossa gente, na "mão amiga", como diz um de seus lemas, presente para todo cidadão.
Infelizmente, há sempre quem prefira citar uma página tida como negra da instituição: o controle do país pelo regime militar. Ou, como dizem os simpatizantes da Revolução de 1964, o "regime de exceção". Não cabe neste momento analisar tal fato. A lembrança é válida porque realmente se trata de um fato histórico na História do Brasil e que até hoje gera calorosos debates.
De acordo com pesquisa realizada em setembro do ano passado pela Associação dos Magistrados Brasileiros, o Exército figura como a segunda instituição mais confiável na opinião dos brasileiros, com 74,7% de aprovação. Fica atrás apenas da Polícia Federal (75,5%). Em país os governos de modo geral e os políticos receberam a média de 2% de aprovação, trata-se de algo a se comemorar...
Não servi ao país através do Exército, ao contrário de muitos conhecidos. A vida me proporcionou outra variante de armas a serem usadas e de lutas a serem combatidas. Porém, não desconsidero o valor e a importância do serviço militar, embora não concorde que seja obrigatória em um país que se diz democrático. Enfim, outra questão que causa opiniões diversas e cujo momento de ser analisada não é agora.
As melhores recordações que tenho do Quartel de Itu são as colônias de férias das quais participei na infância. No período de recesso escolar do meio do ano, em parceria com a poder público municipal e com empresas privadas, o Quartel programava uma semana de atividades esportivas e de recreação. Eram passadas para as crianças práticas cívicas saudáveis, como cantar o Hino Nacional.
A convivência com os soldados também despertava uma grande atenção e os passeios nos tanques de guerra deixavam os pequenos boquiabertos. A sessão de tiro com espingardinhas de pressão também faziam, os meninos principalmente, a brincar de "soldadinho" em suas imaginações. Cada grupo, dividido em faixas etárias, tinha suas próprias atividades de acordo com a idade. As turmas eram batizadas com os nomes dos Estados brasileiros, uma inteligente maneira de nos fazer aprender nomes de lugares tão distantes da nossa realidade, como Rondônia ou Amapá. Independente de qualquer coisa, o Exército nos ensinava que aquele era o Brasil que sempre defenderia com "braço forte".
Tenho uma experiência curiosa. Ao participar das colônias de férias, os pais tinham a responsabilidade de buscar as crianças, pois a viagem de ida era proporcionada por ônibus contratados pela Prefeitura. As empresas arcavam com os custos dos lanches e com alguns brindes. Meus pais trabalhavam, e por isso nunca iam me buscar. Mais de uma vez os soldados foram obrigados a me "escoltar" de volta para casa. Ainda bem que eu era suficientemente esperto para passar as "coordenadas" a fim de que a "operação" resultasse num "positivo". Meus vizinhos ficavam doidos ao me ver chegar no jipe. "São meus amigões", dizia eu, e em seguida relatava as aventuras daquele dia.
Outro dado curioso é que, no final da colônia de férias, realizado em um fim de semana, os pais eram convidados para a "formatura". Na ocasião, alguns prêmios eram sorteados. O sonho de todos era levar as bicicletas, em um tempo no qual a criançada não sonhava em ganhar Ipods e celulares. Em um desses sorteios, minha irmã ganhou a tal bicicleta. Mas quem a usou fui eu, pois ela ainda era muito pequena e mal podia subir em cima de seu prêmio.
Há uma canção de Raul Seixas, ele mesmo um exilado por conta do regime militar, que faz duras críticas à instituição militar. Chama-se "Mamãe Eu Não Queria" e o principal refrão é "Mamãe, eu não queria / Servir o Exército". Honestamente, também nunca tive pendores militares. Porém, o que não ´há como negar é a importância das Forças Armadas para o país. Em tantos países aqui mesmo na América Latina, infelizmente as instituições militares obedecem às ordens de tiranos, que nem sempre se preocupam mais com a democracia e o bem-estar do povo. No Brasil, o Exército aprendeu o seu lugar e não tenho dúvidas de que saberá o que fazer se for chamado a defender os interesses democráticos e republicanos do nosso país.
Com a certeza de que o Regimento Deodoro é das mais admiradas administrações do Exército em solo nacional, com postos de comando cobiçadíssimos por qualquer comandante, pela honra que a tarefa proporciona, termino parabenizando os comandantes de todas as patentes, bem como os soldados do Quartel de Itu, por escreverem seu naco de História em solo ituano nos últimos 90 anos. Dou parabéns também a Itu, que tem a honra de conviver, em seus quase 400 anos e ainda no cotidiano, com a instituição que faz homenagem ao proclamador da Rep&
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