Cotidiano

Publicado: Quarta-feira, 16 de janeiro de 2008

Depoimento de Bia Siolli

Depoimento de Bia Siolli
Tenho, com o Regimento Deodoro, três fases bem marcantes. Quando pequena, aguardava ansiosamente pelo recesso escolar para participar da Colônia de Férias. Eram formadas equipes e disputávamos inúmeras atividades tanto na piscina, quanto no gramado e na pista de atletismo. Era uma grande farra, alunos de outras escolas, num ambiente completamente estranho ao nosso convívio. Tudo parecia tão grande! E, na hora do ‘recreio’, então: algodão doce, sanduíches, sucos! Chego a dizer que assim como era pra mim, aquele era o momento mais aguardado do dia por todas as crianças.  
 
Sinto tristeza pelas crianças de hoje que não podem, assim como eu pude, desfrutar da diversão que era a colônia de férias do quartel.
 
Na fase da adolescência, descobri meu interesse por garotos fardados. Não preciso dizer que, uma grande amiga e eu, passávamos em volta do quartel milhões de vezes por dia, a pé ou de carro, só para arriscar ver alguns de sentinela. Como ainda não dirigíamos, sobrava para a mãe da minha amiga esse martírio. Foi nessa época que, obcecadas pelo uniforme, cogitamos a idéia de entrar para as Agulhas Negras, mas, rapidamente, desistimos ao ver o nível da prova de admissão.
 
Descobrimos então que nossa professora de Educação Física (da escola), dava treinos de vôlei no quartel, nas tardes de quarta-feira.  Nunca gostei de vôlei! Desnecessário dizer que isso não me impediu de me inscrever e passar a freqüentar assiduamente os treinos. Não me importava de ensacar os dedos, tomar boladas na cara por estar prestando atenção em outras coisas, que não a bola. Burlava o horário do alongamento, e fingia ir até ao banheiro só pra poder transitar mais tranquilamente pela área interna.
 
Nossos treinos eram bem concorridos. Muitos dos soldados também fingiam trocas de lâmpadas, ou limpezas das janelas só para poderem ver um bando de meninas descordenadas tentando jogar vôlei.
 
Não sei dizer ao certo quanto tempo duraram esses treinos, mas assim como meu interesse por fardas, risquei o vôlei definitivamente da minha vida.
 
Hoje, adulta consigo enxergar no Regimento Deodoro um conjunto arquitetônico e histórico de inigualável beleza. Não existe uma única vez que ao passar em sua frente e admirá-lo não sinta um misto de nostalgia e satisfação ao olhar seu relógio e me lembrar da gruta, momentos felizes de um tempo que não volta mais. Tempo que se transforma, que encorpa, toma outros rumos.
 
Guardo no meu coração as lembranças da infância e adolescência repartidas com o Quartel. Pretendo ainda, junto do homem que amo, compartilhar na Igreja do Regimento Deodoro um último momento especial.

Bia Sioli é formada em Gestão Hoteleira, estudou quase 5 anos de Direito. É sócia da Cafeteria São Luiz, cantora do Coral Vozes de Itu e entusiasta incondicional da cidade. É também colunista do itu.com.br.
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