Entrevista com Rita Benedetti do grupo teatral "Cia Metamorfose"
Renan PereiraItu.com.br – O que você pensa sobre arte independente?
Rita Benedetti - Arte independente é aquela que não possui vínculos, religiosos, políticos, empresariais, ou qualquer outro, é a livre expressão de opiniões e ideias... Aliás, toda arte deveria ser assim! O que somos é amadores, fazemos nosso trabalho com seriedade e profissionalismo, apenas não possuímos DRT, que é o registro profissional dos artistas.
Itu.com.br – Fale sobre a sua trajetória no campo artístico.
R.B - Não tenho formação acadêmica como atriz ou escritora. Comecei a trabalhar em teatro com o Kaká (maquiador) apenas nos bastidores com cenografia, figurino, maquiagem, sonoplastia, aprendi muito com ele. Depois, há três anos entrei para a Cia Metamorfose, atuando. Fiz alguns cursos e workshop. Apresentamos algumas esquetes, sendo que a esquete "Esperança" (texto de minha autoria) conquistou o 2º lugar na Segunda Olimpíada Ambiental de Itu. A peça teatral "Mentes Delirantes... Diálogos Interessantes" (também de minha autoria), foi apresentada em Itu e Salto, participou do XVI Festival de Artes de Itu, e representou a cidade no Circuito Regional de Artes em Cerquilho. Hoje, estamos com o projeto de uma peça infantil, escrita por mim, que pretendemos estrear ainda esse ano. Também participo da "Paixão de Cristo" em Salto, que é um espetáculo grandioso, que já é tradição em Salto.
Itu.com.br – Existe espaço para a manifestação da arte independente em Itu?
R.B - Em Itu não existe nenhum tipo de apoio aos grupos amadores, absolutamente nada. O único teatro da cidade, TEMEC é pago, não temos nenhuma sala para ensaios, não temos apoio em divulgação de nosso trabalho, enfim, nada de nada. Normalmente nos apresentamos em Salto, porque tanto o Teatro Maestro Gaó quanto o Montécnica trabalham com porcentagem de bilheteria, o que facilita muito para nós. Ensaios são feitos nas nossas próprias casas, enfim, a gente se vira!
Itu.com.br – O que as autoridades locais devem fazer em prol da manifestação cultural amadora?
R.B - A ajuda que gostaríamos de ter é básica! Espaço gratuito para ensaios e apresentações, apoio para divulgação de nosso trabalho, transporte quando necessário... Mas tudo isso sem que houvesse qualquer tipo de pressão, que pudéssemos continuar expressando nossas ideias de forma livre.
Itu.com.br – Alguma vez você procurou a prefeitura local para organizar um projeto?
R.B - Há pouco mais de um ano, um grupo se reuniu e criou a Biblioteca Comunitária Professor Waldir de Souza Lima, hoje Ponto de Leitura. O projeto foi encabeçado por José Renato Galvão, e não teve qualquer tipo de apoio de governo, foi tudo construído com a união de amigos e pessoas que acreditaram nesse trabalho. Hoje a Comunateca está muito bem estruturada, com apresentação de filmes, eventos, saraus, exposições... Me orgulho muito de fazer parte desse projeto como voluntária desde o início, e me orgulho mais ainda de ser amiga dessas pessoas.
Itu.com.br – Qual é a importância da arte para a formação sócio-cultural do ser humano?
R.B - A arte, seja no teatro, cinema, poesia, literatura, dança, etc, trás até as pessoas a oportunidade de pensar, de questionar, de rever o mundo a sua volta, e não simplesmente aceitar as coisas e pronto! Além disso, ensina as pessoas a se comunicar, se expressar, a ter senso de grupo, responsabilidade, a ser criativo, etc. Porém, acredito que aos governos não interessa ter seres "pensantes"... Afinal, quem pensa, mais cedo ou mais tarde reage!
Itu.com.br - Existe algum projeto artístico de seu interesse sendo desenvolvido na cidade no momento?
R.B - Sei do projeto para a construção de um grande teatro em Itu. Acho uma idiotice. A cidade não comporta um teatro grandioso para 1.500, 2.000 lugares! As pessoas não têm o hábito de frequentar esse tipo de ambiente! Seria muito mais interessante um teatro com uma sala para 500 ou 600 pessoas, e com outras duas ou três salas para 150, 200 pessoas. Com salas para ensaio, boa iluminação, acústica, etc. Um teatro grandioso não passaria de um elefante branco, inútil! E claro, ter incentivo para a população em geral frequentar o espaço, e não apenas poucos privilegiados; ou seja, preços populares!